segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Suiços banem minaretes das mesquitas do país

57,5% dos eleitores votaram a favor da proibição de construir minaretes nas mesquitas islâmicas da confederação helvética. Isto apesar de, num total de 150 edifícios, apenas quatro terem minaretes. Parceiro do Governo, Verdes e Amnistia Internacional criticam resultado do referendo, convocado pelo Partido Popular Suíço, formação de direita, maioritária no Parlamento

Os muçulmanos suíços estão proibidos de construir minaretes nas suas mesquitas, depois de a maioria dos eleitores helvéticos terem aprovado no referendo de ontem a interdição daquele símbolo islâmico.

A decisão, surpreendente tendo em conta os resultados previstos pelas sondagens, não abrange, no entanto, os quatro minaretes que existem actualmente na Suíça, em Zurique, Olten, Genebra e Winterthur.

57,5% dos eleitores suíços, 1,53 milhões de pessoas, aprovaram a proibição da construção de minaretes no país, numa consulta popular promovida pelo Partido Popular Suíço. A formação da direita conservadora que domina o Parlamen- to teve, para isso, que conse- guir reunir cem mil assinaturas.

Apesar de criticar a iniciativa, o Governo federal indicou, num comunicado de imprensa, "que respeita esta decisão e, em consequência disso, a construção de minaretes deixa de ser permitida na Suíça".

Nenhum dos quatro minaretes já existentes é usado para chamar os fiéis para as orações do dia, até porque isso já era proibido por lei. Mas nem isso fez recuar os conservadores, que apelidam os minaretes de "símbolo político-religioso".

Eveline Widmer-Schlumpf, ministra da Justiça suíça, considerou que o resultado do referendo de ontem reflecte um certo receio em relação ao fundamentalismo islâmico.

"Essas preocupações têm que ser levadas em conta. O Governo considera, porém, que banir a construção de novos minaretes não é um meio fiável para contrariar o extremismo", disse a governante, citada pela BBC, tentando tranquilizar a comunidade muçulmana.

A Suíça conta com quase meio milhão de seguidores da religião islâmica, na maioria oriundos de países dos Balcãs, da Turquia e do Norte de África.

A Amnistia Internacional suíça declarou-se consternada com a interdição dos minaretes. "A proibição total de construir minaretes representa uma violação da liberdade de religião, incompatível com as convenções assinadas pelo país", alertou Daniel Bolomey, secretário--geral da organização.

"Os defensores da iniciativa conseguiram explorar os medos em relação ao islão e trazer à superfície sentimentos xenófobos, isso é lamentável", acrescentou, numa altura em que os Verdes já anunciaram a intenção de recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. E várias centenas de pessoas protestaram contra a decisão em várias partes da Suíça.

No referendo apenas quatro dos 26 cantões votaram contra a proibição: Basileia-Cidade, Genebra, Vaud e Neuchâtel. Este é mais um episódio de tensão com minorias muçulmanos, a acrescentar às polémicas já existentes em países europeus como por exemplo França, Reino Unido, Holanda, Espanha, Itália, Alemanha, Dinamarca.

Fonte: Diário de Notícias

Concerto contra o despejo do CCL


O Centro de Cultura Libertária, espaço anarquista existente há 35 anos em Cacilhas, encontra-se ameaçado de despejo pelo proprietário. Após sentença do Tribunal de Almada, emitida no dia 2 de Novembro de 2009, foram dados 20 dias ao CCL para abandonar as suas instalações. O Centro de Cultura Libertária recorreu desta decisão do Tribunal, no passado dia 19 de Novembro, suspendendo a ordem de despejo.

Agora, aguarda-se a decisão do Tribunal sobre o recurso, que pode anular a decisão de despejo, levar a um novo julgamento ou reiterar a sentença já emitida. Não se pode prever qual será a decisão ou quanto tempo esta levará a ser tomada. Sabemos apenas que, caso o recurso seja recusado, teremos dez dias apenas para abandonar o espaço do CCL.

O Centro de Cultura Libertária vive momentos de absoluta incerteza quanto ao seu futuro. Mas uma coisa é certa: faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para dar continuidade ao CCL e para manter o espaço que este ocupa há 35 anos. Para tal precisamos da solidariedade de todos os que se revêem no CCL.

Para já o apoio monetário continua a ser muito importante, já que suportamos custos muito elevados para uma associação que vive apenas das contribuições dos seus associados e simpatizantes. O recurso custou-nos 2.000 euros em honorários do advogado e mais 75 euros da “taxa de justiça”. Em caso de perda do recurso, poderemos ter de pagar as custas judiciais. A salvaguarda do espólio do CCL, em caso de despejo, dará certamente lugar a novas despesas.

A motivação do proprietário do prédio é clara: despejar uma associação que paga uma renda mensal baixa (51 euros) e cujo contrato só pode ser rescindido através de uma acção de despejo, abrindo assim o caminho à rentabilização do espaço.
O papel do tribunal também é claro: defender o interesse dos proprietários e a propriedade privada, alicerces essenciais deste sistema baseado na desigualdade e na exploração.

Actualmente, o CCL é um dos raros locais anarquistas que se mantém em Portugal, único pela sua longevidade e pelo papel de preservação da memória histórica libertária que desempenha, mas também pela ligação afectiva que gerou em várias gerações de anarquistas, que nele encontraram um espaço de aprendizagem, de experimentação e divulgação das suas ideias.

O Centro de Cultura Libertária encarregar-se-á de agir a nível local, procurando a todo o momento, divulgar e estimular a revolta contra uma situação da qual não somos os únicos alvos. Encorajamos todas as formas de solidariedade dos companheiros que desejem potenciar a nossa luta noutros lugares.

Saúde e Anarquia!

Centro de Cultura Libertária
23 de Novembro de 2009
Retirado de http://culturalibertaria.blogspot.com/

sábado, 28 de novembro de 2009

Fujam!! Os ateus são o bicho papão.....

Após recentemente ter sido apelidado de “comunista de merda”, ontem fui brindado com mais um nome bonito, “ateu ignóbil”. Bem foi mesmo boneco fascizoide que me baptizou das duas vezes, mas se da primeira ainda lhe sacudi um pouco a coluna para ver se as vértebras iam ao sitio, desta vez apenas lhe dei desprezo. Tenho é a certeza que ele neste momento está a ler o dicionário de Língua Portuguesa para saber o que quer dizer ignóbil. Deve ser a palavra da semana lá no culto de adoração Salazarista onde lhe formatam o cérebro. Posto isto vamos lá analisar afinal o quer dizer ‘ateu’, segundo o dicionário da Língua Portuguesa : def: Aquele que não crê na existência de Deus; descrente; ímpio. Bem acho que não há definição mais simples e mais verdadeira. Mas porque raio os ateus são tão discriminados por esse mundo fora? Passemos a analisar. Várias pesquisas indicam que o termo “ateísmo” tornou-se tão estigmatizado no mundo e principalmente nos EUA que ser ateu virou um total impedimento para uma carreira política (de um jeito que ser negro, muçulmano ou homossexual não é). De acordo com uma pesquisa recente, apenas 37% dos americanos votariam num ateu qualificado para o cargo de presidente.
Ateus geralmente são tidos como intolerantes, imorais, deprimidos, cegos para a beleza da natureza e dogmaticamente fechados para a evidência do sobrenatural.
Até mesmo algumas ‘mentes brilhantes’ deste mundo, defendem que o ateísmo “não deveria ser tolerado” porque, dizem eles, “as promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou santidade.”
Fantástico, vamos chamar intolerantes aqueles que usam o cérebro para pensar e não para absorver a propaganda que eles vomitam. Nos Estados Unidos ( a terra ‘livre’ mais intolerante de todas) uns impressionantes 87% da população alegam “nunca duvidar” da existência de Deus e menos de 10% identificam-se como ateus (e as suas reputações estão a ser destruídas).
Tendo em vista que sabemos que os ateus figuram entre as pessoas mais inteligentes e cientificamente alfabetizadas em qualquer sociedade, é importante derrubarmos os mitos que os impedem de participar mais activamente do nosso discurso nacional. Sendo os mitos mais conhecidos os seguintes.

Os ateus acreditam que a vida não tem sentido. Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam frequentemente com a falta de sentido na vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna além da vida. Ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. As nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora, não precisam durar para sempre para tê-lo. Ateus tendem a achar que este medo da insignificância é... bem... insignificante.
Os ateus são responsáveis pelos maiores crimes da história da humanidade. Pessoas de fé geralmente alegam que os crimes de Hitler, Estaline, Mussolini e outros foram produtos inevitáveis da descrença. O problema com o fascismo e o comunismo, não era que eles eram demasiado críticos da religião, o problema é que eles eram muito parecidos com religiões. Tais regimes eram dogmáticos ao extremo e geralmente originam cultos a personalidades que são indistinguíveis da adoração religiosa. Os campos de concentração e os campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando humanos rejeitam os dogmas religiosos, são exemplos de dogmas políticos, raciais e nacionalistas à solta. Não houve nenhuma sociedade na história humana que tenha sofrido porque seu povo ficou racional demais.

Os ateus são dogmáticos. Judeus, cristãos e muçulmanos afirmam que suas escrituras eram tão prescientes das necessidades humanas que só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente uma pessoa que considerou esta afirmação, leu os livros e descobriu que ela é ridícula. Não é preciso ter fé ou ser dogmático para rejeitar crenças religiosas infundadas. Como disse o Stephen Henry Roberts uma vez: “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu”.

Os ateus acham que tudo no universo surgiu por acaso. Ninguém sabe como ou por que o universo surgiu. Aliás, não está inteiramente claro se nós podemos falar coerentemente sobre o “começo” ou “criação” do universo, pois essas ideias invocam o conceito de tempo, e estamos a falar sobre o surgimento do próprio espaço-tempo. A noção de que os ateus acreditam que tudo tenha surgido por acaso é também usada como crítica à teoria da evolução darwiniana, isto representa uma grande falta de entendimento da teoria evolutiva. Apesar de não sabermos precisamente como os processos químicos da Terra originaram a biologia, sabemos que a diversidade e a complexidade que vemos no mundo vivo não é um produto do mero acaso. Evolução é a combinação de mutações aleatórias e da selecção natural. Darwin chegou ao termo “selecção natural” em analogia ao termo “selecção artificial” usadas por criadores de gado. Em ambos os casos, selecção demonstra um efeito altamente não-aleatório no desenvolvimento de quaisquer espécies.

O ateísmo não tem ligação com a ciência. Apesar de ser possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus (alguns cientistas parecem conseguir), não há dúvida alguma de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Observando a população americana: A maioria das pesquisas mostra que cerca de 90% do público geral acreditam num Deus pessoal, no entanto, 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam. Isto sugere que há poucos modos de pensamento menos apropriados para a fé religiosa do que para a ciência.

Os ateus são arrogantes. Quando os cientistas não sabem alguma coisa (como por exemplo a criação do universo ou como a primeira molécula se formou), eles admitem. Na ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrado com frequência no facto de como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber de factos sobre astronomia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a basear as suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.

Os ateus não têm espirtualidade. Nada impede um ateu de experimentar o amor, o êxtase, e o temor, os ateus podem valorizar estas experiências regularmente. O que os ateus não fazem é afirmações injustificadas (e injustificáveis) sobre a natureza da realidade com base em tais experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor ao ler a Bíblia e a rezar. E isso prova o que? Que certas disciplinas de atenção e códigos de conduta podem ter um efeito profundo na mente humana. Será que essas experiências provam que Jesus é o único salvador da humanidade? A resposta correcta é: NÃO, até porque hindus, budistas e muçulmanos têm experiências similares regularmente. Não há, na verdade, um único cristão na Terra que possa adirmar com certeza de que Jesus usava barba, muito menos que ele nasceu de uma virgem ou ressuscitou dos mortos. Este não é o tipo de alegação que experiências espirituais possam provar.


Os ateus acreditam que não há nada para além da vida e do conhecimento humano. Os ateus são livres para admitir os limites do conhecimento humano de uma maneira que os religiosos não podem. É óbvio que nós não entendemos completamente o universo, mas é ainda mais óbvio que nem a Bíblia nem o Corão demonstram melhor conhecimento dele. Nós não sabemos se há vida complexa noutro lugar do cosmos, mas pode haver. E, se há, tais seres podem ter desenvolvido um conhecimento das leis naturais que vastamente excede o nosso. Ateus podem livremente imaginar tais possibilidades. Eles também poderão admitir que se existirem extraterrestres mais inteligentes que nós ou não, que o conteúdo da Bíblia e do Corão ainda será menos impressionante do que para nós humanos ateus. Do ponto de vista ateu, as religiões do mundo banalizam completamente a real força e imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para chegar a esta conclusão.


Os ateus desprezam o facto de que as religiões são extremamente benéficas para a sociedade. Aqueles que enfatizam os bons efeitos da religião nunca parecem perceber que tais efeitos falham em demonstrar a verdade de qualquer doutrina religiosa. É por isso que temos termos como “pensamento positivo” e “fé”. Há uma profunda diferença entre uma ilusão que nos consola e a verdade nua e crua. De qualquer maneira, os bons efeitos da religião podem e devem ser questionados. Na maioria das vezes, as religiões dão péssimos motivos para se agir bem, quando temos bons motivos disponíveis. Por exemplo: o que é mais moral? Ajudar os pobres por se preocupar com seus sofrimentos, ou ajudá-los porque acha que o criador do universo quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?


O ateísmo não fornece nenhuma base para a moralidade. Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não o vai descobrir lendo a Bíblia ou o Corão, já que esses livros transbordam de crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos a nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais que são (até certo ponto) embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana. Nós fizemos um progresso moral considerável ao longo dos anos, e não fizemos esse progresso lendo a Bíblia ou o Corão mais atentamente. Tudo que há de bom nas escrituras pode ser apreciado por seu valor ético, sem a crença de que isso nos tenha sido transmitido pelo criador do universo.

O ateismo é um dos caminhos para um futuro sem escravidão mental. É por isso que sou ateu, e mesmo sendo ignóbil lutarei sempre para fugir ao controlo.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Reconstituição do 25 de Novembro

Quinta-feira, 6 de Novembro de 1975. À hora de jantar, o Conselho da Revolução interrompeu os trabalhos. Deveria ser um breve intervalo, naquela reunião conjunta com o Governo de coligação, mas prolongou-se, para conselheiros e ministros verem o debate na RTP entre Mário Soares e Álvaro Cunhal.

No ecrã a preto e branco, o jornalista envolto em fumo de cigarro anunciou os líderes dos partidos Socialista e Comunista. "O sr. dr. teima em querer fazer a revolução com uma minoria", diz Soares, com um risinho. Cunhal responde rápido: "Não. O que eu quero é fazer a revolução com revolucionários."

A reunião do Conselho da Revolução fora pedida pelo executivo. O primeiro-ministro, Pinheiro de Azevedo, cujo cognome era o "Almirante sem Medo", exigia medidas para que o deixassem governar. Os militares não lhe obedeciam, os sindicatos e os comunistas organizavam manifestações de protesto todos os dias, os media divulgavam propaganda radical e apelavam à sublevação, principalmente a Rádio Renascença, que, em Outubro, fora ocupada pelos trabalhadores e se transformara em porta-voz da esquerda revolucionária. Era preciso fazer qualquer coisa.

Pinheiro de Azevedo e alguns dos conselheiros falaram sobre isto durante o intervalo, que se prolongou demasiado devido ao grande interesse do debate da RTP, dando azo a que fosse tomada, um pouco à socapa, aquela decisão, antes de todos voltarem à sala. A decisão terrorista.

"O Partido Comunista tem um pé no Governo e todo o corpo, e o outro pé, de fora, fazendo mobilização no país, para derrubar o Governo", diz Soares na televisão. "Isto leva em linha recta o país para a confrontação armada e uma guerra civil." Cunhal vai contrariando: "Nós também queremos evitar a guerra civil. Mas não se fale da disciplina da direita reaccionária..."

Soares continua: "O que o Partido Comunista deu provas, durante estes meses, é que quer transformar este país numa ditadura." E Cunhal: "Olhe que não, olhe que não."

Conselheiros da Revolução e ministros voltaram para a sala de reuniões, no Palácio de Belém. Prosseguiram os discursos e as queixas, até que o Conselho disse que sim a todas as sugestões do sarcástico primeiro-ministro. Uma delas, já combinada no intervalo, era a decisão terrorista de Estado e dizia respeito à Rádio Renascença. Às 4h30 da manhã do dia 7, sexta-feira, pouco depois de a reunião ter terminado, uma bomba era lançada, na Buraca, sobre os emissores da rádio rebelde, calando-a de vez. A ordem foi dada pelo Governo, com aval do Conselho da Revolução e através do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Morais e Silva, e quem a executou foram forças pára-quedistas da Companhia de Caçadores 121, aquartelada no Lumiar.

Ora entre os "páras" o predomínio dos esquerdistas era cada vez maior. Activistas do PCP e dos partidos maoístas faziam agitação e propaganda junto dos efectivos das unidades especiais e altamente disciplinadas de pára-quedistas, fazendo-os sentir um peso na consciência por terem bombardeado a Renascença.

Sábado, 8 de Novembro. Apercebendo-se do mal-estar entre os "páras", Morais e Silva, acompanhado pelo capitão de Abril Vasco Lourenço, foi à Base Escola de Tropas Pára-Quedistas, em Tancos, explicar a acção contra a "rádio vermelha". Uma sessão de esclarecimento foi convocada para o pavilhão gimnodesportivo da base. O general começou a falar, ao lado de um embaraçado Vasco Lourenço (que sempre achou injustificável a operação Renascença), mas foi interrompido por um soldado, que lhe roubou o microfone para dizer: "Camaradas, vamos todos sair daqui. O meu general é um burguês, que já fez a sua opção de classe e não pode defender os nossos interesses. Portanto, não temos nada que estar aqui a ouvi-lo." E abandona o pavilhão com a maioria dos soldados, para se irem juntar a uma reunião paralela, com os sargentos da base.

Humilhado, Morais e Silva ficou sem resposta, e acabou também por sair do recinto. Os oficiais presentes continuaram a reunião, decidindo que, por não haver disciplina possível, iriam apresentar-se no Estado-Maior da Força Aérea, para pedir a passagem aos seus quadros de origem. Nesse mesmo dia, 123 oficiais abandonaram a base de Tancos, deixando-a entregue a sargentos e praças, e instalam-se na base aérea de Cortegaça, perto de Espinho, com a ajuda e apoio do chefe da Região Militar do Norte, Pires Veloso. Morais e Silva, esse, jurou vingar-se.

Domingo, 9 de Novembro. Uma gigantesca manifestação de apoio ao VI Governo Provisório foi convocada para o Terreiro do Paço pelo PS e o PSD. Pinheiro de Azevedo, com Mário Soares e Sá Carneiro, ficou numa das janelas da sala do Estado-Maior da Armada. Mas mal o primeiro-ministro começou a discursar, denunciando o golpismo do Partido Comunista, rebentou uma granada de fumo no meio da multidão. Gerou-se o pânico, correrias, gritos, uns tentando abandonar a praça, outros deixando-se atropelar, outros tentando encontrar e castigar os culpados. Pouco depois, começou a ouvir-se um tiroteio vindo dos arcos da praça. A Polícia Militar tentava dispersar a tiro os desordeiros, provocando o pandemónio. Da janela, Pinheiro de Azevedo gritava: "O povo é sereno! O povo é sereno! É apenas fumaça! É apenas fumaça! O povo é sereno!"

Segunda-feira, 10 de Novembro.

Na base de Tancos realizou-se um plenário em que foi aprovada uma moção de repúdio pela operação contra a Renascença. Os sargentos assumiram a autoridade, reinstalaram a disciplina e treinos com intensidade redobrada, armaram uma companhia especial para garantir a defesa da base.

Terça-feira, 11 de Novembro. Dois sargentos pára-quedistas deslocaram-se ao Forte do Alto do Duque, onde se situava o quartel-general do Copcon (Comando Operacional do Continente). Pediram para falar com o chefe, Otelo Saraiva de Carvalho. "Meu general, vimos aqui oferecer-lhe 20 mil tiros por minuto", disse um dos sargentos. Colocavam-se à disposição e sob o comando de Otelo, em troca do seu apoio à luta dos "páras".

Quarta-feira, 12 de Novembro. Otelo manifestou publicamente o seu apoio aos pára-quedistas. Morais e Silva começara a executar a sua vingança. Numa série de ordens confusas, ia mandando passar à disponibilidade os praças pára-quedistas. Na prática, extinguiu os pára-quedistas.

Para explicar a sua posição, Otelo promoveu uma reunião entre Morais e Silva e o Presidente da República, Costa Gomes. "Meu general, eu quero dizer-lhe claramente que não posso apoiar esta decisão unilateral do Morais e Silva", disse Otelo. "Temos uma força pára-quedista de centenas de homens perfeitamente disciplinados, uma força excelente para o combate, que pode actuar em qualquer situação, e agora, por despacho, este gajo elimina a força de pára-quedistas?"

"Mas eles não me respeitam", defendeu-se Morais e Silva.

"Não te respeitam, porque tu participaste em ordens que não têm pés nem cabeça", atacou Otelo. "Destruir à bomba os emissores da Rádio Renascença, só porque ela estava ocupada pelos trabalhadores? Não havia outra forma de resolver o problema?"

A delegação dos pára-quedistas que visitou o Copcon informou ainda Otelo que os oficiais baseados em Cortegaça estavam a enviar aviões para sobrevoarem ameaçadoramente a base de Tancos. "Estão a fazer voos a pique sobre nós", disse um dos sargentos. "E, se houver alguma atitude ameaçadora, nós queremos rebentar com o avião."

Otelo enviou então, como medida dissuasora, metralhadoras antiaéreas para os páras em autogestão.

No mesmo dia, às 5 da tarde, uma manifestação de trabalhadores da construção civil cercou o Palácio de S. Bento, onde o Governo se encontrava reunido, para apresentar ao primeiro-ministro o seu caderno reivindicativo. Em frente do portão da residência do primeiro-ministro, os trabalhadores colocaram uma enorme betoneira, obstruindo a saída. Ninguém poderia abandonar o palácio antes de terem sido atendidas as reivindicações, explicaram os delegados sindicais.

No interior, permanecia o Governo inteiro, mas também os deputados da Assembleia Constituinte, que estava reunida, o público que assistia à sessão e os funcionários do palácio. Uma delegação dos manifestantes foi falar com Pinheiro de Azevedo, que declarou não tencionar ler sequer o documento das reivindicações, enquanto se mantivesse aquela situação de pressão. Em resposta, representantes dos trabalhadores entraram no salão nobre e na varanda, onde instalaram um sistema sonoro e de onde iniciaram um comício permanente. Não iriam "arredar pé", enquanto os seus problemas não fossem resolvidos, gritaram aos altifalantes. E com isso assumiram o sequestro do Governo e dos deputados, que duraria 36 horas, sem que as forças de segurança, comandadas pelo Copcon de Otelo, fizessem coisa alguma.

Vendo a situação entrar num impasse, com os trabalhadores a estenderem mantas e acenderem fogueiras para dormir e ficar ali por tempo indeterminado, Pinheiro de Azevedo veio à varanda apelar à dispersão, sob a promessa de estudar o caderno reivindicativo. Mas os manifestantes não o queriam ouvir, e gritavam e insultavam mal o primeiro-ministro abria a boca. "Fascista!", chamavam eles, e o "Almirante sem Medo" perdeu a paciência: "Fascista uma merda!" Ou na versão de outras testemunhas: "Vão todos bardamerda!"

Só na manhã de quinta-feira, dia 13 de Novembro, os manifestantes permitiram a saída dos deputados, funcionários e elementos do público assistente à sessão da Constituinte. Os ministros continuaram sequestrados até que Pinheiro de Azevedo acabou por assinar um "compromisso" em que aceitava certas reivindicações.

Sexta-feira, 14 de Novembro.

Os líderes do PS, PPD e CDS fugiram para o Porto, onde participaram numa manifestação de apoio ao Governo, que acabaria com o assalto à sede da União dos Sindicatos. O país estava a dividir-se em dois. A região de Lisboa estava dominada pelas forças comunistas, e cada vez se tornava mais claro, para muita gente, que para as combater seria necessário fazê-lo a partir do Norte, onde os moderados e a direita detinham a supremacia, entre a população e nos quartéis. As forças democráticas tomariam posições na zona do Porto e os comunistas declarariam a Comuna de Lisboa. O país seria dividido em dois e seguir-se-ia a guerra civil.

Não chegou a haver consenso sobre esta solução, mas os líderes dos partidos democráticos, pelo sim pelo não, fugiram para o Porto com as respectivas famílias.

Foi Vasco Lourenço quem sempre recusou esta debandada das forças. A certa altura, numa reunião do Grupo dos Nove, o próprio Melo Antunes, que era o autor do documento, assinado por nove membros do Conselho da Revolução, que marcava posição contra o avanço do totalitarismo esquerdista na vida militar e civil do país, já estava a defender a retirada para o Porto. "Pronto, convenceram-me. Eu aceito", disse Melo Antunes. Mas decidiu impor uma última condição: "Desde que o Vasco Lourenço também aceite."

"Não. Eu não aceito. Isso seria a guerra civil", disse Vasco Lourenço. "Vamo-nos preparar para reagir a qualquer tentativa que haja, e vamos manter o Costa Gomes do nosso lado. Porque o primeiro a saltar perde."

E o Grupo dos Nove começou a trabalhar num plano militar para combater os comunistas e a extrema-esquerda, sempre na perspectiva de uma reacção contra um eventual golpe deles. Mantendo-se do lado da legalidade, teriam a garantia do apoio da maioria das unidades militares. Por isso era fundamental informar o Presidente Costa Gomes dos seus planos e ganhar o beneplácito dele. E depois esperar por um deslize dos esquerdistas.

Para conceber o plano militar, os Nove designaram Ramalho Eanes, embora Vasco Lourenço fosse o líder operacional do movimento dos moderados. Do outro lado, estavam todas as forças militares controladas pelo Partido Comunista e pelos partidos da extrema-esquerda, com a ajuda de todos os civis a quem seriam distribuídas armas, em caso de confronto. No seu total, contando com as lideranças organizadas e efectivas que possuíam, não constituíam uma força capaz de levar a melhor num conflito armado. Pelo menos era isto que os Nove pensavam.

Mas as coisas já seriam diferentes se Otelo assumisse a liderança de todo o sector da esquerda. O prestígio do comandante do Copcon era imenso. Para muitos, ele representava os trabalhadores, os mais fracos, os ideais do Movimento dos Capitães, encarnava a própria revolução. Fora ele a fazer o 25 de Abril, e a assumir as rédeas do poder quando todos disso se demitiam. Foi ele que permitiu e protegeu as ocupações de casas, de fábricas e de terras, que lançou as campanhas de dinamização cultural e de alfabetização. Ele, com toda a sua loucura e exagero, as suas frases bombásticas e assustadoras ("Fascistas para o Campo Pequeno"), era a figura moral e romântica, o símbolo da infinita generosidade de Abril. Mais do que ninguém, ele tinha a capacidade de arrastar as massas atrás de si. De fazer cumprir todas as ordens que desse, por pura lealdade, por puro afecto.

Por isso, Otelo era cobiçado pelas várias forças políticas. O Partido Comunista tentou por todos os meios tê-lo do seu lado, os esquerdistas acreditaram poder contar com ele, aliciando-o com os ideais de poder popular com que ele simpatizava. Até o CDS tentou levá-lo aos seus comícios, para tirar dividendos do seu poder de sedução. Mas Otelo, apesar de se ter deixado manipular em muitas situações, sempre resistiu ao recrutamento político. Nunca perdeu a independência. Naquela altura, era o comandante da Região Militar de Lisboa e do Copcon, uma estrutura que tinha sob a sua alçada todas as forças de segurança e especiais e ainda as unidades de todas as Forças Armadas, em caso de emergência. O Copcon fora criado pelo Presidente da República (Spínola, na altura). O seu poder era legal, além de imenso. Antes de começar a perder o controlo de muitas das forças, devido à acção e influência dos activistas civis da esquerda, Otelo foi o homem mais poderoso do país.

Agora era visto como o líder de todo o sector da esquerda, o único homem capaz de a unir para qualquer propósito, incluindo o de pegar em armas para defender "as conquistas de Abril". Os apoiantes dos Nove (que incluíam desde a esquerda moderada do PS até à extrema-direita do ELP e MDLP) viam-no assim. Os comunistas e a extrema-esquerda viam-no assim. Só ele, Otelo, não aceitava esse papel.

Na semana seguinte houve manifestações contra e a favor do Governo, reuniões dos moderados, do seu grupo militar, reuniões do Copcon, com todos os elementos civis afectos ao PC e à esquerda radical que cirandavam em torno de Otelo, reuniões dos pára-quedistas em luta.

Vasco Lourenço informou Otelo do plano militar contra o eventual golpe da esquerda. "Eu garanto-te que nós não tomamos a iniciativa do golpe", disse-lhe Vasco Lourenço. "Agora, não te envolvas em nenhuma iniciativa, porque se alguém der o primeiro passo, nós estamos em condições de lhe cair em cima. Toma cuidado com isso."

A ideia era ganhar Otelo para o lado dos Nove. Porque eles estavam do lado da legalidade. Tinham, desde as remodelações havidas meses atrás, em consequência do Pronunciamento de Tancos, apoio da maioria do Conselho da Revolução, e tinham o apoio do Presidente da República. Além disso, Vasco sabia que Otelo compreendia as ideias da facção dos Nove. A liberdade, a realização de eleições e o respeito pelos seus resultados, e até a circunstância de os Estados Unidos e as potências ocidentais não tencionarem permitir a instauração de um regime comunista em Portugal, tudo isto eram argumentos a que Otelo era sensível. Mas o ideal do poder popular era mais forte. E também, segundo os seus detractores, a disponibilidade para ser influenciado pelos seus apaniguados.

Sábado, 15 de Novembro.

O movimento dos moderados teve uma reunião alargada no Palácio das Laranjeiras, em que volta a ser colocada a hipótese de fuga para o Norte. Jaime Neves, o comandante do Regimento de Comandos, que estava do lado dos Nove, mas tinha muitos apoios entre a extrema-direita, declarou de súbito: "Se vamos avançar para o Norte, é melhor ser já. Porque eu, neste momento, garanto que uns 200 homens vêm comigo. Daqui a uma semana ou duas já não sei se me restam alguns."

Vasco Lourenço reagiu logo, saltando para o patamar das escadas onde muitos se sentavam: "Afinal que merda de comandante és tu? Afinal és um bluff. Vais mas é para a tua unidade e agarras bem os teus homens, e daqui a 15 dias vais ter os mesmos 200 todos contigo. Porque eu já disse que veto quaisquer ideias de fuga para o Norte."

Na mesma reunião, discutiram-se as medidas a adoptar para fazer face ao agravamento das situações política, militar e social. Foi decidido que era preciso afastar Otelo do comando da Região Militar de Lisboa, substituindo-o por Vasco Lourenço. O segundo passo seria retirar poderes ao Copcon e, depois, extingui-lo. Sem poderes legais, Otelo (que tinha acabado de chamar contra-revolucionário ao Conselho da Revolução) poderia ainda ser perigoso, mas, pensavam os moderados, mais controlável.

"Um comando é muito efectivo quando o seu comandante tem, cumulativamente, muito prestígio e força legal", pensava Ramalho Eanes. "Entre os subordinados, há um conjunto de homens extremamente determinados que estão ligados ao comandante devido ao seu carisma, e obedecem-lhe intransigentemente. Há outro número de subordinados, talvez maior, que não tem dúvidas em seguir as ordens daquele homem de quem gostam e a quem estão ligados, desde que isso não implique para eles e as suas famílias um grande perigo. O que quer dizer que cumprem as ordens, quando isso não implica consequências para as suas famílias, porque o fizeram num quadro de legalidade."

Por causa deste princípio da sabedoria militar, Eanes acreditava que, fora da legalidade, Otelo teria menos de metade dos potenciais seguidores, se desse uma ordem de combate contra as forças apoiadas pelo Presidente da República.

No campo político, a decisão que se seguiu à reunião das Laranjeiras foi ainda mais ousada. Foi tomada ao almoço, no restaurante O Chocalho. O que deveria o Governo fazer para impor o respeito? Foi Gomes Mota, um dos mentores do Movimento dos Nove, quem deu a ideia: o Governo poderia suspender as suas funções até que lhe fossem dadas garantias. Entrar em greve!

Vasco Lourenço apoiou logo: "Compro! Compro essa ideia! O Governo vai entrar em greve!" Melo Antunes, sempre mais ponderado, ainda objectou: "Estás louco? O Governo entrar em greve? Onde é que já se viu isso?"

"Nunca se viu, vai-se ver aqui", respondeu Vasco. "O Governo vai entrar em greve." Logo a seguir telefonaram a Mário Soares, que acabou por concordar e convenceu os outros ministros civis. E Pinheiro de Azevedo partiu para Belém, para informar alegremente o Presidente da República da original decisão.

À saída, o almirante explicou aos incrédulos jornalistas: "Estou farto de brincadeiras. Eh, pá, fui sequestrado já duas vezes, pá. Estou farto de ser sequestrado. Não gosto. É uma coisa que me chateia, pá. Estou farto. Por isso entrámos em greve."

Quinta-feira, 20 de Novembro.

Na reunião do Conselho da Revolução o Movimento dos Nove propôs a nomeação de Vasco Lourenço para a Região Militar de Lisboa. Otelo protestou, mas acabou por concordar. Vasco Lourenço também, com uma condição: que Otelo aceitasse a solução. Porque achava que seria completamente diferente Otelo chegar às unidades que o apoiavam e dizer: "Aceitei esta solução, porque é a menos má", do que dizer: "Não concordei, mas impuseram-me esta solução."

Otelo disse que sim, mas, quando chegou ao Copcon, deparou-se com a discordância dos seus oficiais. Telefonou a Costa Gomes: "Ó meu general, está aqui um problema tramado. É que grande parte das unidades não querem o meu afastamento, e não aceitam o Vasco Lourenço. Eu acabei por aceitar a posição deles. Era o meu voto contra todos."

"É pá, mas isso já está decidido", responde o Costa Gomes.

"Pois é meu general, mas o que é que eu hei-de fazer?"

No dia seguinte telefonou a Vasco Lourenço: "Eh pá, afinal, falei com a minha rapaziada, e eles não aceitam isso, pá. Tenho de ir explicar isto ao Costa Gomes e gostaria que viesses comigo." Ao Presidente Otelo disse que as unidades de Lisboa e os seus comandantes não aceitavam Vasco Lourenço, que não tinha por isso condições para chefiar a Região Militar. Vasco respondeu que os comandantes não o queriam porque, com ele, acabaria a bagunça. O Presidente marcou nova reunião, para a decisão final, para dia 24.

No mesmo dia, no Ralis (Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa), uma das unidades dominadas pela esquerda, fez-se um estranho juramento de bandeira. De punhos erguidos, os soldados gritaram: "Juramos ser fiéis à pátria e lutar pela liberdade e independência. Juramos estar sempre, sempre ao lado do povo, ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador. Juramos lutar com todas as nossas capacidades, com voluntária aceitação da disciplina revolucionária, contra o fascismo, contra o imperialismo. Pela democracia e poder para o povo, pela vitória da revolução socialista."

Durante o fim-de-semana o PS organizou grandes manifestações contra o totalitarismo na Alameda Afonso Henriques, em Lisboa, e segunda-feira, 24 de Novembro, o Conselho da Revolução reuniu-se enquanto, em Rio Maior, os agricultores, orientados pela CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), cortavam os acessos a Lisboa, dispondo árvores abatidas ao longo da estrada. O objectivo dos agricultores era exigir que o Conselho da Revolução acabasse com a "anarquia em Lisboa".

Receando que as barricadas de Rio Maior provocassem alguma acção de resposta da esquerda, Eanes e os operacionais do plano militar colocaram-se em alerta. O Conselho aprovou, para o comando da Região Militar de Lisboa, a nomeação de Vasco Lourenço, que entretanto se considerou desvinculado da condição que impusera, em consequência da "traição" de Otelo.

A reunião acabou tarde. Otelo saiu e dirigiu-se ao Copcon. Eram 4h30 da manhã, mas o forte estava cheio de gente. Oficiais de outras unidades, civis, militantes dos vários partidos de extrema-esquerda. Otelo atira-se para o sofá onde já estavam sentados Costa Martins, um oficial da Força Aérea ligado ao PCP, e outros oficiais da sua confiança. Diz: "Passei aqui só para vos comunicar que deixei definitivamente de ser o comandante da Região Militar de Lisboa. O Vasco Lourenço assumiu o cargo. Eu fico apenas comandante do Copcon."

Costa Martins levanta-se e diz: "Mas os pára-quedistas não vão aceitar esta situação, e vão ocupar as bases aéreas!" Otelo olha para ele. "As bases aéreas? A que propósito?"

"Isto cheira-me a golpada!", diz outro oficial, Tomé Pinto. Otelo responde: "A mim também. Aguenta aí." E chamou o major Arlindo Dias Ferreira, piloto aviador do Copcon, e o capitão Tasso de Figueiredo, da Polícia Aérea do Copcon, levou-os para uma sala à parte.

"Que significa isto? Que boca é esta do Costa Martins?"

"Otelo, isso não é nada connosco", disse Arlindo. "É a luta dos pára-quedistas com o Morais e Silva, que quer dissolver as unidades."

Otelo desconfia: "Se isso acontecesse, não poderia servir de pretexto para os Nove, que já encomendaram um plano de operações ao Eanes, para lançarem uma operação contra nós, e para liquidarem a esquerda? É que uma coisa é o apoio que eu dou aos páras, na sua luta contra o Morais e Silva. Outra coisa é eles ocuparem as bases aéreas, em resposta à minha demissão da Região Militar. Não sei se vocês estão a ver a ligação."

"Não, está descansado, não é nada disso. Nós vamos tomar providências", respondeu Arlindo.

"Então tomem as providências todas, senão há bronca." E Otelo decidiu: "Estou estafadíssimo, não estou para aturar esta pessegada, vou para casa descansar. Vocês travem-me essa porcaria, se houver alguma coisa."

"Vai, vai sossegado."

Otelo atravessou a sala e saiu. "Já dei indicações ao Arlindo. Boa noite, rapaziada."

Foi acordado ao meio-dia, pelo seu chefe de Estado-Maior, com a notícia: "Meu general, é melhor vir rapidamente para o Copcon, porque há aqui uma situação muito grave. Os pára-quedistas ocuparam as bases aéreas, de Monte Real ao Montijo, às 5h da manhã."

Otelo dirigiu-se imediatamente ao Copcon. Mal entrou, o seu chefe de Estado-Maior apontou-lhe a sala ao lado: "Meu general, está ali o comandante da Força de Fuzileiros do Continente, à sua espera."

Ribeiro Pacheco, capitão-de-fragata, de farda branca, impecável, fez continência. "Sr. general", disse ele, "vim aqui para lhe dizer que tem a Força de Fuzileiros do Continente ao seu dispor. Mande, que nós obedecemos. Se quiser, nós vamos neste momento atacar o Regimento de Comandos da Amadora. Vamos lá e destruímos aquilo tudo."

No Regimento de Comandos da Amadora, Ramalho Eanes tinha instalado o posto de comando do contragolpe. Costa Gomes assumiu o comando supremo das Forças Armadas e delegou os seus poderes em Vasco Lourenço, que atribuiu a Eanes o comando operacional. Estava tudo a postos para o combate. Se os fuzileiros atacassem os comandos, seria o início de uma guerra que ninguém podia prever quando e como terminaria. Alem dos fuzileiros, dos pára-quedistas, da Polícia Militar e do Ralis, não se sabia exactamente que outras forças poderiam sair em defesa da esquerda. Eanes, Costa Gomes, Vasco Lourenço, sabiam que tudo dependia de Otelo. Por isso, a primeira coisa que Presidente fez mal soube da saída dos páras foi chamar a Belém o comandante do Copcon.

Mas ele nunca mais chegava. Que iria Otelo fazer? Assumiria a liderança da facção que o via como o seu líder e iniciaria a guerra?

No Copcon, os dois homens olharam-se por escassos segundos. O capitão-de-fragata estava à espera da decisão, em sentido.

"Eh pá, ó Pacheco, aguente aí", disse-lhe Otelo. "Não vai fazer nada disso. O senhor vai mas é daqui, mete-se no carrinho, vai lá para a Força de Fuzileiros, em Vale do Zebro, e fique lá, calmamente, a aguardar o desenrolar dos acontecimentos. Eu vou ver o que se está a passar. Fique a aguardar qualquer indicação do nosso general Costa Gomes."

O chefe dos fuzileiros saiu. O chefe de Estado-Maior de Otelo disse-lhe: "O nosso general Costa Gomes já telefonou para cá duas vezes, pedindo para o meu general se apresentar em Belém."

"Diga-lhe que vou comer qualquer coisa e já vou para lá", respondeu Otelo.

"Ainda bem que chegou, já estava a ficar aflito", disse Costa Gomes quando Otelo entrou. E só então declarou o estado de sítio.

As operações foram lançadas por Eanes, usando os comandos de Jaime Neves. À excepção da Polícia Militar, na Calçada da Ajuda, onde o tiroteio que se instalou provocou três mortos, todas as acções decorreram sem violência. Na RTP, o golpe dos esquerdistas chegou a anunciar a vitória, numa emissão rapidamente interrompida.

"Aqui não há meias-tintas, não tenho mais tempo para conversar", anunciou o jovem oficial barbudo Duran Clemente, à entrada dos estúdios do Lumiar. "Isto é tudo muito desagradável, mas, se for necessário matar, eu tenho de matar." E, depois de ter trancado o director da RTP num gabinete, avançou para o estúdio, onde iniciou um discurso sobre as delícias do poder popular, acompanhado de slides alusivos. Às 21h10, os telespectadores vêem Clemente começar a esbracejar, em protesto contra os sinais que o técnico lhe fazia, e de seguida surgirem no ecrã as imagens do filme O Homem do Diners Club, de Danny Kaye, já emitido dos estúdios do Porto.

O golpe tinha acabado. A fase louca da revolução também. Uma depuração percorreria todos os níveis das Forças Armadas. Um reequilíbrio à direita seria reposto no Conselho da Revolução. Otelo e os seus oficiais seriam presos. O Partido Comunista obteve a garantia de que não seria ilegalizado, desde que abandonasse os impulsos golpistas e aceitasse o jogo eleitoral. Ramalho Eanes emergiria como o herói do 25 de Novembro. Pouco depois era eleito Presidente da República. A fase totalitarista da revolução dava lugar ao período democrático, ainda que à custa de uma boa parte do idealismo inicial. Entrou-se na época da normalização, da revolução possível.

Mas muito ficou por explicar. Quem deu a ordem aos pára-quedistas para ocuparem as bases? Foi o PCP que preparou o golpe da esquerda? Se sim, com que objectivo? Fazer pressão para que houvesse um reequilíbrio à esquerda na composição do Conselho da Revolução e Governo, depois da queda de Vasco Gonçalves? E, nesse caso, porque desistiu? A URSS terá recuado na sua promessa de apoio? Ou terá temido que a extrema-esquerda assumisse o controlo? A ser assim, terá sido esta uma forma hábil de se desembaraçar dos esquerdistas?

E Otelo? Terá traído os companheiros? Terá tido medo? Terá avaliado a correlação de forças e concluído que perderia? Terá planeado tudo, lançando os páras na sua aventura, para provocar a reacção dos Nove, porque previu que isso era a única solução? Isso explicaria por que se fechou em casa, das 5 da manhã ao meio-dia, sem atender o telefone. Terá sido genialmente maquiavélico, ou terá sido enganado? Ou terá feito o jogo dos Nove porque, no fundo, acreditava que eles representavam o regresso à verdadeira essência dos ideais de Abril?

Apesar de todos os mistérios que persistem, visto de hoje o 25 de Novembro parece antes de tudo uma imensa encenação, em que, tacitamente, todos, da extrema-esquerda à extrema-direita, conspiraram para o mesmo desfecho. Como se estivessem cansados, e optassem pela paz.
Fonte: Jornal Público

Pensamento do Dia




"Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade, justiça, honra, dever, piedade, esperança."


Sir Winston Churchill

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pensamento do Dia




"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário."


Ernesto 'Che' Guevara

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pensamento do Dia



"Eu REVOLTO-ME, Logo EXISTO"
Albert Camus

domingo, 22 de novembro de 2009

Antifascista morto na Rússia por neo-nazis


Ivan “Vanya Kostolom” Khutorskoy- 1983/2009

Na noite de segunda-feira 16 de Novembro, anti-fascista de 26 anos Ivan "Vanya Kostolom" Khutorskoy foi baleado até à morte à entrada da sua casa, no bairro de Khabarovsk na zona de este de Moscovo, segundo algumas informações foi morto com dois tiros no crânio.
retirado de http://contraocapital.blogspot.com/

poderão ler todo o artigo em: http://libcom.org/news/gentle-bonecrusher-life-death-ivan-khutorskoy-17112009

sábado, 21 de novembro de 2009

Petição: "Antes da dívida temos direitos"



Se quiseres assina a petição aqui:

http://www.petitiononline.com/mov_prec/


Para mais informações consulta este site:

http://www.antesdadividatemosdireitos.org

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Capitalismo social!!!

Capitalismo é o sistema económico que se caracteriza pela propriedade privada dos meios de produção e pela liberdade de iniciativa dos próprios cidadãos.
Nesse sistema, a produção e a distribuição das riquezas são regidas pelo mercado, no qual, os preços são determinados pelo livre jogo da oferta e da procura. O capitalista, proprietário de empresa, compra a força de trabalho de terceiros para produzir bens que, após serem vendidos, lhe permitem recuperar o capital investido e obter um excedente denominado lucro.

O capitalismo criou lucros gigantes para poucos, criou desemprego para muitos, destruiu ecossistemas na busca do lucro, criou multinacionais as “carraças” do sistema económico que sugam tudo o que conseguem de países normalmente sub-desenvolvidos e quando acaba o interesse nesse país deslocalizam para outro país deixando como herança miséria e destruição ambiental, criou paraísos fiscais, criou os juros e as comissões, criou guerras em busca de mais capital, criou as famosas privatizações deixando os Estados dependentes de capitalistas para o país funcionar, e quando estamos perante uma crise de capital (como a que nos encontramos neste momento) os Estados não têm argumentos para responder porque as grandes empresas estão agora nas mãos de privados, as GALP’s, as EDP’s,etc já não conseguem assegurar a estabilidade nesses sectores para o Estado a única estabilidade que asseguram são os bolsos de Américo Amorim e de José Eduardo dos Santos, entre outros...

Durante todo este processo onde é que estão as pessoas? O capitalismo promove o egoísmo e o egocentrismo, só nos interessa "nós" e os nossos problemas. O capitalismo deixa-nos subir na vida, mas só até onde o nosso capital chegar. A alternativa ao capitalismo é um sistema que promova a satisfação das pessoas, e que acabe com a mesquinhez da sociedade onde estamos.
Porque é que não viramos o jogo ao contrário e em vez dos empresários pagarem o mínimo possível aos seus trabalhadores para terem lucros maiores, não passam a pagar o máximo possível de forma a manter a sustentabilidade da empresa e do seu capital investido, criando uma maior satisfação aos seus trabalhadores e um aumento da sua motivação, o que resulta num melhor trabalho, e consequentemente num aumento de lucro para o investidor, só que agora o patrão lucrou porque os trabalhadores fizeram um excelente trabalho, e não porque paga mal aos trabalhadores.

Os patrões são fundamentais para a sociedade, no fim de contas são eles que criam emprego, só que estes têm que meter na cabeça que o capital não estica e que para uns ganharem 1000000€ há outros que não têm 1€, daí a necessidade de se incentivar a maximização produtiva através da maximização da satisfação dos trabalhadores. Se uma empresa não tem lucros o patrão DESPEDE, se os lucros baixaram DESPEDE se não subiram o previsto DESPEDE….o despedir tem que ser visto como um ultimo recurso, caso contrário é tapar o sol com a peneira, porque a culpa dos lucros baixarem, ou do prejuízo da empresa não é porque os trabalhadores são muitos ou ganham muito, até porque as leis do capital dizem que cada ano as necessidades das pessoas aumentam e o dinheiro desvaloriza o que pela lógica deveria significar, que as pessoas teriam que ganhar todos os anos mais e que teriam mais trabalho para satisfazer as necessidades da sociedade. O capitalismo esqueceu as pessoas e trabalhou para que estas próprias se esquececem, vamos relembrar aos nossos patrões que os activos que eles têm são os seus trabalhadores!

O que pretendo com isto é apresentar uma alternativa ao capitalismo, visto que esta crise veio afirmar de uma vez por todas que o capitalismo falhou, e que não têm que ser os trabalhadores a “apertar o cinto”, se a crise foi criada pelo capital então o capital que pague a crise!

A Crise por Stiglitz

Um dia surgirá o momento em que as ameaças urgentes colocadas pela crise do crédito tornar-se-ão menos relevantes e a tarefa principal será encontrar uma solução para o futuro económico. Este será um momento perigoso. Por detrás do debate sobre políticas futuras está o debate sobre a História - um debate sobre as causas da situação actual. A batalha pelo passado determinará a batalha pelo presente. Por isso, é crucial entender a história correctamente.

Quais foram as decisões cruciais que conduziram à crise? Foram cometidos erros em cada encruzilhada - tivemos o que os engenheiros chamam "falha de sistema", quando não uma única, mas uma cascada de decisões origina um resultado trágico. Vejamos cinco momentos-chave.

Primeiro: Despedimento do presidente

Em 1987, a Administração Reagan decidiu remover Paul Volcker do cargo de Presidente do Conselho da Reserva Federal e designou Alan Greenspan para o seu lugar. Volcker tinha feito aquilo que os banqueiros centrais devem fazer. Sob o seu mandato, a inflação desceu de mais de 11% para 4%. No mundo dos bancos centrais, isto deveria ter-lhe garantido uma nota de "excelente" e assegurado o seu segundo mandato. Mas Volcker também compreendeu que os mercados financeiros precisam de ser regulados. Reagan quis alguém que não acreditasse nisto e encontrou-o no devoto de Ayn Rand, o filósofo objectivista e fundamentalista do comércio livre.

Greenspan teve um papel duplo. O Fed controla a torneira do dinheiro e, nos primeiros anos desta década, ele abriu-a ao máximo. Mas o Fed é também uma entidade reguladora. Se se nomeia alguém anti-regulamentação como executor, sabemos que tipo de regulação vamos ter. Um excesso de liquidez combinado com a falta de regulamentação provou-se uma receita desastrosa.

Greenspan esteve no cargo durante não uma mas duas bolhas financeiras. Depois de a bolha tecnológica ter rebentado em 2000/2001, ele ajudou a encher a bolha do imobiliário. A primeira responsabilidade de um banco central deveria ser manter a estabilidade do sistema financeiro. Se os bancos emprestam com base em preços de bens artificialmente altos, o resultado pode ser um colapso - como estamos a ver agora e como Greenpan deveria saber. Tinha várias das ferramentas que precisava para lidar com a situação. Para lidar com a bolha da alta-tecnologia, poderia ter aumentado as margens de segurança (quantidade de dinheiro que as pessoas têm de depositar para comprar acções). Para evitar a bolha imobiliária, poderia ter limitado os empréstimos predatórios a famílias de baixos rendimentos e proibir outras práticas insidiosas (os empréstimos sem documentação - ou "mentirosos", os empréstimos só de juros e outros). Isto teria ido bastante longe para nos proteger. Se não tinha os instrumentos necessários para o fazer, deveria tê-los pedido ao Congresso.

Obviamente, os problemas do nosso sistema financeiro não residem unicamente nos empréstimos. Os bancos fizeram mega-apostas uns com os outros através de instrumentos complicados como derivados, credit-default swaps e por aí adiante. Com estes, uma parte paga a outra, no caso de um determinado evento acontecer - por exemplo, se o Bear Stearns for à falência ou se o dólar subir. Estes instrumentos foram criados para ajudar a controlar o risco, mas também podem ser usados para jogar. Assim, se alguém se sente confiante em que o dólar vai cair, pode apostar de acordo com esse palpite, e se o dólar efectivamente cair, os lucros disparam. O problema está em que com esta complicada interligação de apostas de grande magnitude, ninguém conseguia saber qual era o estado financeiro dos outros. Sem surpresa, o mercado de crédito congelou.

Também aqui, Greenspan teve o seu papel. Quando fui presidente do Grupo de Conselheiros Económicos durante a administração Clinton, servi no comité dos maiores reguladores financeiros federais, um grupo que incluía Greenspan e o Secretário do Tesouro Robert Rubin. Já naquela altura, era claro que os derivados representavam uma ameaça. Não afirmámos como o fez memoravelmente Warren Buffett - que via os derivados como "armas financeiras de destruição massiva" - mas tivemos em conta o seu ponto de vista. Não obstante, considerando o risco, os desreguladores no comando do sistema financeiro - no Fed, na Securities and Exchange Commission (SEC) , e em todo o lado - decidiram não fazer nada, pois receavam que qualquer acção interferisse com a "inovação" no sistema financeiro. Mas inovação como "mudança" não tem valor inerente. Tanto pode ser má (os empréstimos "mentirosos" são um bom exemplo) como boa.

Segundo: Deitar Abaixo as Paredes

A filosofia da desregulamentação iria pagar dividendos inconvenientes nos anos seguintes. Em Novembro de 1999, o Congresso revogou a Lei Glass-Steagall - o culminar do esforço do lóbi de 300 milhões de dólares da indústria banqueira e de serviços financeiros, liderado no Congresso pelo Senador Phil Gramm. A Lei Glass-Steagall separava os bancos comerciais (que emprestam dinheiro) dos bancos de investimento (que organizam as vendas de acções e títulos); tinha sido elaborada após a Grande Depressão para impedir os excessos daquela era, incluindo graves conflitos de interesses. Por exemplo: sem separação, se uma empresa cujas acções tenham sido emitidas por um banco de investimento, com o seu forte apoio, tiver problemas, o seu ramo comercial não iria sentir pressão para emprestar dinheiro, talvez insensatamente? Não é difícil antever uma espiral crescente de más decisões. Eu opus-me à revogação da Lei Glass - Steagall. Os proponentes efectivamente disseram: "confiem em nós: nós vamos criar Muralhas da China para impedir que os problemas do passado voltem a acontecer". Como economista, com certeza que possuía um elevado grau de confiança, confiança no poder dos incentives económicos para dobrar o comportamento humano para o interesse próprio - para o interesse próprio a curto prazo e a qualquer taxa, em vez do "interesse próprio correctamente entendido" de Tocqueville.

A consequência mais importante da revogação da Lei Glass-Steagall é indirecta - está na forma como a revogação mudou uma cultura. Não é suposto os bancos comerciais aventurarem-se em alto risco; é suposto fazerem a gestão do dinheiro das pessoas de modo bastante conservador. É perante esta ideia que o governo concorda em pagar a conta quando estes quebram. Por outro lado, os bancos de investimento têm tradicionalmente controlado o dinheiro dos ricos - aqueles que podem correr maiores riscos no sentido de obter maiores rendimentos. Quando a revogação de Glass-Stealgall juntou os bancos comerciais e de investimento, a cultura de banco de investimento saiu vencedora. Houve uma procura de altos rendimentos que poderiam ser obtidos apenas através de altas alavancas e riscos.

Existem outros passos importantes no caminho da desregulamentação. Um foi a decisão de Abril de 2004 tomada pela Securities and Exchange Commission, num encontro frequentado por praticamente ninguém e largamente ignorado na altura, que permitiu aos bancos de investimento aumentar o seu rácio dívida/capital (de 12:1 para 30:1 ou mais) para que pudessem comprar mais títulos de hipotecas, inflacionando a bolha do imobiliário durante o processo. Ao concordar com esta medida, a SEC apoiou as virtudes da auto-regulação: a noção peculiar de que os bancos podem controlar-se a si próprios. Auto-regulação é absurdo, como admite agora Alan Greenspan, e na prática não consegue em caso algum identificar riscos sistémicos - o tipo de riscos que se levantam quando, por exemplo, os modelos usados por cada um dos bancos na gestão das suas carteiras indicam a todos os bancos para venderem determinados títulos de uma só vez.

À medida que nos vamos despindo de velhas regulações, não fizemos nada relativamente aos novos desafios colocados pelos mercados do século XXI. E o desafio mais importante foi colocado pelos derivados. Em 1998, o chefe da Commodity Futures Trading Commission, Brooksley Born, apelou por tal regulação - uma preocupação que se tornou urgente depois de o Fed, no mesmo ano, ter elaborado o bailout (plano de salvamento) do Long-Term Capital Management, um hedge-fund cuja falência de mais de um bilião de dólares (milhão de milhão) ameaçou os mercados financeiros globais. Mas o Secretário do Tesouro Robert Rubin, o seu ajudante, Larry Summers e Greenspan foram inexoráveis e bem sucedidos na sua oposição. Não foi feito nada.

Terceiro: Aplicar as sanguessugas

Surgiu então o corte de impostos de Bush, primeiro em 7 de Junho de 2001, seguido de uma nova entrega dois anos depois. O presidente e os seus conselheiros aparentemente acreditam que a redução de impostos, especialmente para americanos e empresas com altos rendimentos, seria a cura para qualquer doença económica - é o equivalente moderno das sanguessugas. A redução de impostos teve um papel principal na formação das condições por detrás da actual crise, porque fez pouco para estimular a economia, o verdadeiro estímulo ficou nas mãos do Fed, que executou a tarefa através de taxas de juro baixas e liquidez sem precedentes. A guerra no Iraque tornou as coisas piores, pois conduziu à subida dos preços do petróleo. Uma vez que a América é tão dependente de petróleo importado, tivemos de gastar vários milhares de milhões de dólares extra para comprar petróleo - dinheiro que poderia ter sido gasto em bens americanos. Normalmente isto conduziria ao abrandamento económico, como aconteceu nos anos 70. Mas o Fed resolveu o assunto da forma mais míope possível. O excesso de liquidez tornou o dinheiro rapidamente disponível nos mercados de hipotecas, até para aqueles que normalmente não conseguiriam pedir emprestado. E, sim, isto impediu um abrandamento económico: a taxa de poupança privada na América desceu até zero. No entanto, deveria ser claro que estávamos a viver de dinheiro emprestado a tempo emprestado.

O corte na tributação dos ganhos de capital contribuiu para a crise de uma outra forma. Foi uma decisão que levantou questões éticas: aqueles que especulavam (leia-se, jogavam) e ganhavam eram taxados mais levemente do que aqueles que viviam de salários provenientes dos trabalhos árduos. Mas, mais do que isso, a decisão encorajou a alavancagem [investimento em acções através de empréstimos, elevando o risco da operação mas também as hipóteses de lucro] porque o juro era dedutível no imposto. Se, por exemplo, pedia emprestado um milhão para comprar uma casa ou colocava uma hipoteca de 100.000 dólares para comprar acções, o juro seria totalmente dedutível anualmente. Qualquer ganho de capital obtido pagava um imposto baixo - e possivelmente num futuro remoto. A administração Bush convidou abertamente ao excesso de empréstimos e crédito - e os consumidores americanos não precisavam de mais encorajamento.

Quarto: Falsear os números

Entretanto, em 30 de Julho de 2002, no acordar de vários escândalos - designadamente, o colapso da WorldCom e da Enron - o Congresso aprovou a lei Sarbanes-Oxley. Os escândalos envolveram todas as grandes firmas americanas de contabilidade, a maioria dos nossos bancos e algumas das nossas melhores empresas, e tornaram óbvio que tínhamos sérios problemas com o nosso sistema contabilístico. Para a maioria das pessoas, contabilidade é um assunto sonolento, mas se não podemos acreditar nos números de uma empresa, não podemos acreditar em nada acerca da empresa. Infelizmente, nas negociações que deram origem à lei Sarbanes-Oxley, foi tomada a decisão de não lidar com o que muita gente, incluindo o respeitável ex-chefe do SEC Arthur Levitt acreditava ser um problema implícito e fundamental: stock options1. As stock options têm sido defendidos por proporcionarem incentivos saudáveis no sentido da boa gestão mas, de facto, são apenas "incentivos de pagamento". Se uma empresa tem sucesso, o director executivo ganha grandes recompensas sob a forma de stock options; se uma empresa não tem sucesso, a compensação é quase igual, mas proporcionada de outras maneiras. Isto é suficientemente mau. Mas os problemas colaterais das stock options é que elas incentivam a má contabilidade: a gestão do topo tem sempre incentivo para distorcer a informação de forma a fazer subir os preços das acções.

A estrutura de incentivo das agências de rating também se provou perversa. Agências como a Moody's e a Standard & Poor's eram pagas pelas próprias pessoas que deveriam avaliar. Resultado, tinham todos os motivos para dar às empresas altas avaliações, numa versão financeira daquilo que os professores universitários chamam inflação de notas. Uma vez que os bancos de investimento lhes pagavam, as agências de rating acreditavam em alquimia financeira - aquelas hipotecas tóxicas avaliadas negativamente poderiam ser convertidas em produtos que eram suficientemente seguros para serem compradas pelos bancos comerciais e fundos de pensões. Vimos esta mesma falha das agências de rating na crise do Sudeste Asiático nos anos 90: altas avaliações facilitavam a entrada de dinheiro na região e de repente uma mudança súbita nas avaliações trazia a devastação. Mas os capatazes financeiros não prestaram atenção.

Quinto: Deixar Sangrar

O último ponto surgiu com a passagem do pacote de bailout [plano de resgate ou salvamento] em 3 de Outubro de 2008 - isto é, com a própria resposta da administração à crise. Sentiremos as suas consequências nos próximos anos. Tanto a administração como o Fed têm sido guiados por um desejo de optimismo, esperando que as más notícias sejam passageiras e que o regresso do crescimento esteja no virar da esquina. À medida que os bancos americanos enfrentaram o colapso, a administração mudou de uma para outra forma de acção. Algumas instituições (Banco Stearns, A.I.G., Fannie Mae e Freddie Mac) foram salvas. O Lehman Brothers não. Alguns accionistas conseguiram algo de volta. Outros não.

A proposta original do Secretário do Tesouro Henry Paulson, um documento de três páginas que daria 700 mil milhões de dólares ao secretário para os gastar à sua descrição, sem qualquer supervisão ou controlo judicial, foi um acto de extraordinária arrogância. Ele vendeu o programa como necessário para restaurar a confiança. Mas não lidou com as causas subjacentes à perda de confiança. Os bancos tinham feito demasiados empréstimos maus. Tinham grandes buracos nos seus orçamentos. Ninguém sabia o que era verdade e o que era ficção. O pacote de salvamento era como uma transfusão massiva de sangue para um paciente que sofria de hemorragias internas - e nada estava a ser feito sobre a origem do problema, nomeadamente, a execução das hipotecas. Desperdiçou-se tempo valioso enquanto Paulson empurrava o seu próprio plano, dando "dinheiro por lixo", comprando os maus activos e transferindo o risco para os contribuintes americanos. Quando finalmente o plano foi abandonado, oferecendo aos bancos o dinheiro que precisavam, Paulson fê-lo não só de maneira a enganar os contribuintes americanos, mas também falhou na definição de como os bancos deveriam gastar esse dinheiro. Até permitiu que os bancos retribuíssem os seus accionistas ao mesmo tempo que os contribuintes punham o seu dinheiro nos bancos.

Outro problema não resolvido dizia respeito à fragilidade da economia. Esta foi sustentada por um excesso de crédito. Esse jogo tinha acabado. À medida que o consumo se contraía, as exportações mantiveram a economia a funcionar, mas com o dólar a fortalecer-se e a Europa e o resto do mundo a declinar, tornava-se difícil de ver como isto poderia continuar. Entretanto, os estados enfrentavam quebras maciças nas receitas - teriam de cortar nas despesas. Sem uma acção rápida do governo, a economia estaria perante um abrandamento. E mesmo que os bancos tivessem emprestado sensatamente - o que não fizeram - o abrandamento significaria uma subida de más dívidas, enfraquecendo sector financeiro fragilizado.

A administração falava de construção de confiança, mas o que executou foi um truque de confiança. Se quisesse efectivamente restaurar a confiança no sistema financeiro, deveria ter começado por lidar com os problemas subjacentes - as estruturas de incentivos com falhas e um sistema de regulamentação inadequado.

* * *

Houve alguma decisão que, se tivesse sido revertida, teria mudado o curso da história? Todas as decisões - incluindo as decisões de não fazer alguma coisa, como foram muitas das nossas más decisões - são consequência de decisões anteriores, uma teia interligada que se estende de um passado distante até ao futuro. Ouvir-se-ão alguns da direita apontar certas acções do próprio governo - como a Lei Community Reinvestment, que requer que os bancos tornem o dinheiro das hipotecas disponível em bairros de baixos rendimentos (as falhas nos pagamentos dos empréstimos de CRA foram muito mais baixas do que outros). Tem havido muito apontar de dedos a Fannie Mae e Freddie Mac, os dois gigantes de empréstimos hipotecários que originalmente eram propriedade do governo. Mas, de facto, eles chegaram tarde ao jogo do subprime, e o seu maior problema era semelhante ao do sector privado: os seus directores executivos tinham o mesmo incentivo perverso para serem indulgentes no jogo.

A verdade é que a maior parte dos erros individuais partem de um só: a crença de que os mercados são autoreguladores e o papel do Estado deve ser mínimo. Olhando para trás, para essa crença durante as audiências neste Outono, no Capitol Hill, Alan Greenspan disse em alto e bom som: "Eu encontrei uma falha". O congressista Henry Waxman pressionou-o respondendo: "Por outras palavras, descobriu que a sua visão do mundo, a sua ideologia, não estavam correctos; não estava a funcionar." "Absolutamente, absolutamente", dizia Greenspan. A adopção desta filosofia falhada da economia pela América - e por grande parte do resto do mundo - tornou inevitável que finalmente chegássemos a este ponto.

Joseph E. Stiglitz, Prémio Nobel da Economia, é professor na Universidade de Columbia

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Santa Hipocrisia

A Religião é uma forma de controlar as pessoas. Qualquer que seja a religião. Existem determinados parâmetros que regulam as pessoas. Determinadas regras que os crentes têm de cumprir. Ou seja, para seres de determinada religião tens de cumprir as regras que alguém escreveu há uns anos, muitos anos por sinal, para poderes fazer parte dessa família. Se não cumpres isso tens de cumprir determinadas penitências.

E qual o objectivo disto?

Tudo isto tem um único objectivo controlar as massas para que as pessoas vivam de acordo com os parâmetros. Ou seja, além de cumprires só as leis do teu país, muitas vezes injustas, ainda tens de te penitenciar se fazes sexo antes do casamento, ou se usas preservativo, ou se fazes um aborto, ou se és homossexual, entre outras coisas. São todos princípios arcaicos e ideias dogmáticas que te prendem e condicionam. O processo de libertação começa em cada um. Constrói o teu próprio sistema moral e vive de acordo com ele. O que tu pensas enquanto pessoa e ser individual é que tem valor. Cada pessoa tem capacidade de decisão, se pensas logo existes. Se acreditas em Deus e nas religiões vives condicionado. Ao contrário do que te fazem crer os pregadores das religiões. As religiões prendem o espírito crítico porque estás preso aos dogmas que eles pregam.

Agora dando alguns exemplos das formas de controlo, da religião que impera neste Portugal:

A confissão. Chegas e dizes ao senhor padre o que fizeste, contas-lhe a tua vidinha e ele decide se pecas-te ou não. Esta forma de controlo permite à Igreja controlar as populações. Saber o que se passa nas vilas e cidades. É este o grande objectivo das confissões.

A missa. Cerimónia onde o senhor padre com o dom da palavra te diz o que é bom e o que é mau. Isto sem nunca teres oportunidade de réplica. Numa missa não se pode levantar o dedo para intervir ou questionar o senhor padre. Ele encontra-se no poleiro sem poder ser contrariado.

O baptismo, as comunhões, o casamento, etc. Para se fazer parte da Igreja tem de se ser baptizado, fazer as comunhões e casado pela Igreja. Para acederem as estes rituais da Igreja têm de cumprir determinadas normas para o senhor padre lhes poder conceder a honra da cerimónia religiosa. Estas normas estão relacionadas com idas à igreja para se confessarem, orações, participação assídua nas missas. Para puderem, depois de pagamento em dinheiro, ser aceites no seio da comunidade católica.

E o que te oferece a Igreja em troca de seres um bom cordeiro?

O paraíso. O sítio onde estarás perto de Deus se cumprires os seus mandamentos e fores pagando ao longo da vida para seres um bom cordeiro.

Não podes ser bom só por ser? Sem esperares nada em troca?

Eu posso e por isso para mim qualquer crença em algo superior torna-se ridícula.

Sou boa pessoa, porque tenho os meus objectivos, aqueles que eu criei porque penso.

Por ser boa pessoa não espero nada em troca. Sou porque quero ser.

Deixem-se de hipocrisias, o Deus que tanto idolatram não existe. O que existe é a Igreja. Que inventou Deus para te controlar.

Um segundo ponto importantíssimo.

Os lucros da Igreja.

Onde foi buscar a Igreja tanto ouro, tantas Igrejas super ornamentadas, tantas basílicas, um império de imóveis?

Negócio, só assim se cria lucro no mundo capitalista que eles dizem ser contra.
E depois atiram-nos para os olhos a areia das acções humanitárias que fazem. Se um cristão se preocupa-se realmente com os outros pedia a extinção de igrejas cheias de ouro, de um papa que mais parece uma exposição da Swarovski, de cardeais com tecidos caríssimos, entre um milhão de coisas.
Santa hipocrisia

Agora gostava de fazer uma proposta.

Extinga-se a Igreja e dividam-se os seus bens pelos que realmente precisam.

CHEGA DE HIPOCRISIA.

Marcha pelo Ensino Superior

Cerca de quatro mil estudantes do Ensino Superior manifestaram-se esta terça feira, 17 de Novembro de 2009, em Lisboa. Vieram de todo o país em protesto contra as políticas de desinvestimento sucessivo que conduziu à degradação das universidades e ao abandono de muitos estudantes devido à insuficiência do sistema de acção social.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Todos deviamos ser ANTI-HEROIS!



Valete - "Anti Herói"

Los que le cierran el camino a la revolución pacífica,
le abren al mismo tiempo el camino a la revolución
violenta


Só se pode fazer isto uma vez

Eu cresci trancado num quarto com livros de Marx e
Pepetela
Alimentado por parágrafos de Nélson Mandela
Foi esta a fonte do ódio que agora já não escondo
Este é o som que eu inalei na voz de Zeca Afonso

Ninguém me separa deste Guevara que eu tenho em mim
E podes ver na minha cara a raiva de Lenine
Eu choro este sangue que devora o espírito
E choca os mais sensíveis, e torna-me um monstro como
Estaline

Valete a.k.a Ciclone Underground, nigga
O filho do bastardo da vossa opressão, nigga
Eu tenho nos meus olhos a cor da insurreição, nigga
Sou como Malcom-x com o microfone na mão

Eu desenterro vítimas de genocídio capitalista
E levo mais comigo para a rebelião
Eu sou o primeiro a marchar para esta revolução
Tu és o primeiro a bazar na hora da intervenção

Eu vim para ressuscitar Lumumba, Ghandi e Arafat
E os nossos homens de combate através desta canção
Pai, eu tatuei no meu peito a Tua imagem
Para respirar através dela a Tua batalha e a Tua
coragem

Hoje eu trago nos meus braços a Tua alma e a Tua
mensagem
E as escumalhas não sabem que jamais irão levar
vantagem
Nós vestimos a farda de Xanana
E levamos drama do terceiro mundo à casa branca

Desfilamos com a mesma gana que tropas em Havana
E com a resistência suburbana desta convicção cubana
Toma, esta ira psicopata deste filho de Zapata
Activismo de vanguarda é o registo de som

Eu trago a obstinação com que Luther King abalou
E a mesma solução todo o meu people sonhou
Eu sou aquele mundo novo que Amalia cantou
Esboço desse sofrimento todo meu povo guardou

(Refrão)
Eu sigo este caminho que o ódio abriu para mim
E serei um dos guerreiros que aplaudirão no fim
Este é o som da revolução que em breve chegará
Eu sou anti-herói, que nunca se renderá
Eu sou um dos filhos deste mundo que a Luta inspirou
No mesmo trilho da mensagem que Cabral deixou
Esta é a voz da justiça que um dia se afirmará
Eu sou o anti-herói que o povo aclamará

Enquanto eu me enveneno com este rancor
Vou pondo balas no carregador para abater esses
opressores
Esta é a missão dos peronistas, que eu assumi na hora
Com a determinação que herdei da minha progenitora

Ninguém pára a frente armada que eu comando agora
Combate a escória na alvorada como fez Samora
Eu trago nesta oratória a história dos filhos que
viram a morte inglória dos pais
E que hoje anseiam desforra

Na Palestina, no Cambodja, Vietname, Angola
No Iraque, Na Somália, Afeganistão e Bósnia
Esse é o grito desse mundo que chora e implora
Pela justiça dos homens porque já viram que Deus não
acorda

Vítimas de quem fez de todo o mundo seu património
Da hipocrisia assassina do FMI e da ONU
É o povo anónimo cobaia de liberalismo económico
Que sai das amarras eufórico para combater o demónio

Eu sou aquele que vocês chamaram de fundamentalista
Quando eu disse que era um trotskista belicista
Posicionei-me assim contra a América imperialista
Aqui está o vosso kamikaze terrorista

Farto de vos ver sentados, manipulados
Por uma televisão que vos deixa impávidos e
formatados
Asnáticos inconformados, fechados e enganados
Otarios e atrasados, inválidos e atordoados

Nós estamos do lado contrário nesta jornada cheia de
gente angustiada
Traumatizada por um passado onde foram pisadas,
martirizadas
Apedrejadas, excluídas, extorquidas, extropiadas
Cuspidas

Por uma brigada Desalmada de parasitas
Que devastaram arrasaram vidas
E agora vão pagar com a descarga
Desta entifada criada pelos homens que vocês flagelara
E sobraram com guerra para vingar aqueles que não ficaram

(Refrão)

Eu sigo este caminho que o ódio abriu para mim
E serei um dos guerreiros que aplaudirão no fim
Este é o som da revolução que em breve chegará
Eu sou anti-herói, que nunca se renderá
Eu sou um dos filhos deste mundo que a luta inspirou
No mesmo trilho da mensagem que Cabral deixou
Esta é a voz da justiça que um dia se afirmará
Eu sou o anti-herói que o povo aclamará

Casamento homossexual

Tema polémico, debate profundo na sociedade civil, debate difícil ou ter de ser feito um referendo são pontos recorrentes na comunicação social.
Que risada, que hipocrisia!
De polémico não tem nada.
De debate profundo na sociedade civil também não, muito menos difícil.
Quanto ao referendo… O referendo sobre o aborto de 2007 teve uma participação de 43,57%, acho que é bastante elucidativo. Não tem de ser feito referendo. Gastam-se milhões em prol do desinteresse da sociedade civil. Faça-se uma estimativa do dinheiro que se pode gastar e use-se esse dinheiro para o bem de todos. Não entro nesse tema, para aqui não interessa.
Depois desta introdução sarcástica quero esclarecer a minha posição.

De acordo com a Constituição da República “todos têm o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade” e de acordo com o Código Civil o casamento é “um contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida”.

Então? Afinal é só para alguns…

Não quero discutir a inconstitucionalidade de se negar o casamento a pessoas de acordo com a sua orientação sexual.

O que tem de ser é justo.

E a justiça é o princípio de que todos somos iguais, neste caso perante a lei do casamento.

A lei actual define que existem pessoas diferentes.

E são diferentes porquê?

O casamento concede, ao abrigo legal, determinados privilégios:
a)Herdeiras legitimárias dos seus cônjuges;
b)Regime patrimonial como a comunhão de bens adquiridos ou a comunhão geral de bens;
c)Adopção do nome do cônjuge.

De acordo com isto podemos ver que existem diferenças claras perante a lei. Ou seja, existem cidadãos que por serem homossexuais se vêem privados de determinados direitos.

A isto chama-se discriminação.

Atenção porque isto é grave: O Código Civil descrimina os homossexuais.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Antes da dívida temos direitos!

A deterioração das relações laborais avança em Portugal a um ritmo avassalador, com perda de direitos e erosão das condições de vida para sectores cada vez mais vastos da população. A par do aumento do desemprego, há hoje cerca de 2 milhões de pessoas em situação de precariedade, sujeitas à arbitrariedade dos patrões, obrigadas a aceitar os baixos salários e a incerteza, à margem do enquadramento legal, da protecção social e das garantias mínimas. A chantagem social individualiza as relações laborais para enfraquecer a parte mais fraca: os trabalhadores/as.

Assistimos à generalização da contratualização a prazo para funções permanentes, à vulgarização dos recibos verdes, ao crescimento do negócio das empresas de trabalho temporário, à transformação dos/as trabalhadores/as em “colaboradores/as”, sempre disponíveis e descartáveis.

O trabalho a recibos verdes é disso um bom exemplo: estima-se que existam hoje em Portugal cerca de 900 mil falsos recibos verdes, a desempenhar funções permanentes, com horário, local de trabalho e hierarquia reconhecíveis, mas sem qualquer contrato ou reconhecimento de direitos.

O Estado, que deveria ter uma responsabilidade especial nesta matéria - desde logo fiscalizando e impedindo esta chantagem ilegal sobre um conjunto cada vez maior de trabalhadores/as -, é o primeiro a não dar o exemplo: além dos meios insuficientes fornecidos à Autoridade para as Condições do Trabalho, há já hoje mais de 100 mil pessoas a trabalhar com vínculos precários em funções públicas.

A Segurança Social, uma conquista histórica e social que deveria garantir a solidariedade entre gerações e assegurar o apoio a todos/as em situação de vulnerabilidade, exclui hoje um número crescente de trabalhadores/as. Os/as trabalhadores/as sujeitos/as à ilegalidade dos falsos recibos verdes, quase sempre com baixos salários, contribuem para a Segurança Social, mas quase sem contrapartidas.

É neste contexto que muitas vezes estes/as trabalhadores/as têm de escolher entre cumprir com as suas contribuições para a Segurança Social ou fazer face às dificuldades do quotidiano.

Assim, há hoje milhares de trabalhadores/as a recibos verdes que viram acumular-se uma dívida à Segurança Social, que, nas suas condições, não conseguem saldar. Uma dívida quase sempre contraída numa situação que, além de injusta, é ilegal. É uma dívida contraída porque os patrões não descontaram o que deveriam, se a esse trabalho correspondesse o contrato de trabalho devido; é uma dívida contraída por milhares de pessoas que nunca tiveram direito aos subsídios de férias ou de Natal; é uma dívida contraída por pessoas que, por serem cinicamente consideradas empresários/as, nunca tiveram apoio na doença ou no desemprego.

A Segurança Social é uma conquista que não queremos perder. Queremos defendê-la, para que ela seja uma garantia solidária que nos proteja nas dificuldades e nos dê segurança quando olhamos para o presente e o futuro. Sabemos que os sucessivos Governos a têm vindo a esvaziar e afirmamos que nos bateremos por ela e pelo seu aprofundamento, capacidade e dotação. Uma sociedade com direitos no trabalho e na vida não pode dispensar uma Segurança Social forte e universal.

É por isso que dizemos que, quando olhamos para as dívidas destes/as trabalhadores/as à Segurança Social, se têm de fazer contas. O Estado permitiu a instalação confortável do abuso e da ilegalidade nas relações laborais. Não pode agora executar cegamente estas dívidas.

Assim, porque queremos uma Segurança Social forte, a que corresponda uma sociedade com direitos no trabalho e na vida, e porque não aceitamos que seja a própria Segurança Social a tornar-se uma forma de chantagem para os/as trabalhadores/as, exigimos que as dívidas contraídas por estes/as trabalhadores/as não possam ser executadas sem que sejam averiguadas as condições nas quais elas foram contraídas. Fazer as contas tem de ser um momento esclarecedor e rigoroso: a dívida daqueles/as a quem são devidos direitos há anos, tem que ser equacionada mediante a avaliação da responsabilidade dos que lucraram com a sobre-exploração do seu trabalho.

Esta proposta é incontornável na medida em que identifica (e pretende resolver) uma perversão no modo como se usa e abusa da legislação que autoriza a existência dos recibos verdes, que tem vindo a ser utilizada por um número cada vez maior de entidades empregadoras. O Estado tem que falar e terminar com as ilegalidades e injustiças a que se têm de sujeitar cada vez mais pessoas, desde logo na Segurança Social. Por isso, afirmamos: antes da dívida, temos direitos!

Festa de lançamento da Petição à Assembleia da República

É preciso agir perante as injustiças que a precariedade nos impõe. Foi isso que levou estes 4 movimentos - APRE! (Activistas Precários), FERVE (Fartos/as d'Estes Recibos Verdes), Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual e Precários Inflexíveis - a juntarem-se para promover uma petição à Assembleia da República, que reunirá milhares de assinaturas para combater as injustiças nas contribuições para a Segurança Social dos trabalhadores e trabalhadoras a recibo verde. Essa petição será lançada num convívio mobilizador no próximo dia 20, no espaço Interpress, no Bairro Alto, em Lisboa. Esperamos por ti lá.



retirado de: http://antesdadividatemosdireitos.blogspot.com/

Aminetu Haidar

Aminetu Haidar, defensora saharauí dos direitos humanos, foi detida esta sexta-feira pela polícia marroquina no aeroporto de El Aaiun. Haidar regressava ao Sahara ocupado depois de receber em Nova Iorque o prémio “Coragem civil 2009”. Com ela foi detido também o jornalista espanhol Pedro Barbadillo e a sua equipa de reportagem.
Ficaram presos no aeroporto e foram entretanto transferidos, mas o seu paradeiro é desconhecido neste momento.
Haidar chegava ao meio-dia a Aaiun vinda do aeroporto de Las Palmas de Gran Canaria, acompanhada de uma equipa de gravação coordenado pelo jornalista espanhol Pedro Barbadillo. Foram impedidos de gravar e foram separados uns dos outros. Depois foram detidos em dependências policiais diferentes e transportados para fora do aeroporto.

"Não tenho medo, mas estou certa que vou sofrer repressão de Marrocos quando voltar ao Sahara”, disse Haidar antes da viagem de regresso a Aaiun. A defensora saharauí dos direitos humanos pensava que podia ser presa, como foram sete outros companheiros seus, ou que lhe retirariam os papéis para impedi-la de sair do Sahara e denunciar a situação de falta de direitos que vive o povo do Sahara Ocidental.
Aminetu Haidar, considerada a "Gandhi Saharaui", descrevia a situação actual no Sahara Ocidental ocupado como alarmante, denunciando a escalada da repressão policial, julgamentos militares à população civil e a detenção ilegal ou a retenção de documentos e prisão domiciliária de outros saharauis que também reclamam o respeito pelos direitos humanos nas zonas colonizadas pelo governo marroquino.

“Regressámos à pior época de Hassan II”, disse. Os sete activistas detidos no passado dia 8 de Outubro no regresso dos acampamentos de refugiados saharauis de Tindouf têm de enfrentar um tribunal militar que pode condená-los à morte. Ahmed Alnasiri, Brahim Dahane, Yahdih Ettarouzi, Saleh Labihi, Dakja Lashgar, Rachid Sghir y Ali Salem Tamek são membros de reconhecidas organizações de defesa dos direitos humanos e outros grupos da sociedade civil.
Uma fronteira de milhões de minas antipessoais divide o Sahara Ocidental. A activista saharauí declarou que “é uma aberração que a missão da ONU no Sahara, a Minurso, seja a única missão de paz no mundo que não contempla a defesa dos direitos humanos no território sobre o qual actua.”
A França opôs-se recentemente no Conselho de Segurança da ONU à ampliação do mandato da MINURSO para a protecção e vigilância dos direitos humanos nos territórios ocupados do Sahara Ocidental.

No passado dia 20 de Outubro, Haidar recebeu em Nova Iorque o “Prémio Coragem Civil 2009” da Fundação Train, que premeia quem realiza actos extraordinários “de resistência ao mal com grande resistência pessoal”. Em 1987, com 21 anos, ela foi uma das 700 pessoas detidas por participar num encontro que exigia o referendo de autodeterminação.
Manteve-se “desaparecida” sem julgamento nem acusações durante quatro anos, foi torturada ao lado de outras 17 mulheres saharauis. Em 2005, a polícia marroquina voltou a detê-la e a bater em manifestantes depois de uma manifestação pacífica. Foi libertada depois de 7 meses de pressão internacional de organizações como a Amnistia Internacional e o Parlamento Europeu. Desde então Haidar correu mundo para denunciar a ocupação militar marroquina e a violação sistemática da população saharauí e para lutar pelo direito do seu povo à autodeterminação.

Haidar nasceu em 1967 em El Aaiun (Sahara Ocidental), é mãe de dois filhos e tem um bacharelato em literatura moderna. Ganhou prémios de direitos humanos vários nos EUA e na Europa e foi candidata a Prémio Nobel da Paz. A Amnistia Internacional (dos EUA) apresentou a sua candidatura ao prémio Ginetta Sagan.

Entretanto por iniciativa da associação Amizade Portugal-Sahara Ocidental, foi lançada uma carta aberta onde se pede a libertação dos 7 presos saharauis defensores dos Direitos Humanos presos por Marrocos. O apelo já foi subscrito por mais de 125 organizações.
Há também uma campanha contra a pesca ilegal em águas do Sahara Ocidental a que a UE dá cobertura, “o que é verdadeiramente escandaloso e atenta à nossa dignidade de europeus”, diz a Associação.
“Como sabem, nenhum Estado do mundo reconheceu a anexação marroquina do Sahara Ocidental, no entanto a União Europeia (UE) está a pagar anualmente milhões de euros ao governo de Marrocos para que este autorize barcos da UE a pescar em águas do Sahara Ocidental”, pode ler-se no texto que lança esta campanha, que cita depois as palavras de Haidar: “É uma pilhagem em grande escala praticada pela UE. Nós, saharauis, não recebemos qualquer benefício deste Acordo e nunca fomos consultados sobre se o desejávamos”.

Willy Meyer e Miguel Portas, eurodeputados do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica denunciaram esta sexta-feria a detenção por parte das forças de segurança marroquinas de Aminetu Haidar. Também Ana Gomes (deputada europeia pelo Partido Socialista) condenou a detenção e denunciou as violações dos direitos humanos.
Willy Meyer condenou energicamente a detenção: "Esta detenção soma-se à dos sete activistas detidos no passado 8 de Outubro e supõe uma escalada da política repressiva de Marrocos sobre os activistas saharauis.”
Por seu lado, o eurodeputado português Miguel Portas reclamou da União Europeia "medidas contundentes para parar esta onda de repressão que sofrem os activistas dos direitos humanos nos territórios ocupados e no Reino de Marrocos”.
Meyer e Portas coincidiram ao considerar “inaceitável que a UE esteja a negociar um Estatuto Avançado com Marrocos, enquanto este viola claramente os direitos humanos. A União Europeia deve suspender este tratamento preferencial enquanto persista a perseguição política dos saharauis, e Marrocos não proceda à libertação de todas as pessoas detidas por tentarem exercer os seus direitos civis e políticos.”

Retirado de: www.esquerda.net

Mais um caso de um povo que não tem liberdade, e que o mundo ocidental assiste impávido e sereno como se não fosse nada consigo. A liberdade é um direito de todos, que não devia sequer ser ensinada porque já deveria estar imposta em todo o lado.Como disse "Che" Guevara "As tantas rosas que os poderosos matem nunca conseguirão deter a primavera", podem silenciar Aminetu Haidar, mas não vão conseguir calar as ideias que transporta, as ideias de liberdade para o seu povo!

VIVA A LIBERDADE!!
ANTIFA SEMPRE!