sábado, 26 de dezembro de 2009

Colonialismo Moderno


O grupo económico português da Portucel-Soporcel está a ultimar negociações com o Governo moçambicano para adquirir 200 mil hectares de terrenos (equivalente à área de 200 mil estádios de futebol) para plantar eucaliptos, junto dos quais pretende construir uma fábrica de pasta de papel, informa o Público.

Recorde-se que, nos anos 80 do séc. XX , quando a consciência ambiental em Portugal era muito fraca - o que, em geral, se mantém, ainda hoje, com poucas e honrosas excepções - assistia-se à eucaliptação indiscriminada de vastas áreas do nosso litoral e de áreas serranas, reconversão esta que tinha por vezes lugar em áreas com espécies autóctones e ou consideradas importantes para a conservação da biodiversidade. Esta foi uma grande luta que, convém não esquecer, decorreu muitas vezes em sintonia com o sentir das populações locais que receavam as mudanças drásticas que estas florestações colocariam à sua região e ao seu modo de vida.

As múltiplas actividades que então decorreram tiveram alguns pontos altos nas acções directas no terreno levadas a cabo pela população e que envolveram acorrentamento de pessoas às máquinas, em Manhuncelos, concelho de Marco de Canaveses, em 1988, na Serra da Aboboreira, em Janeiro de 1989, em Valpaços, dois meses depois, ou ainda em Mértola, juntamente com a Associação de Defesa do Património de Mértola, no final desse ano. Em todas essas mobilizações, a Quercus de então, bastante diferente da que existe agora, teve um papel fundamental. Relembremos as formas como as acções se realizaram e o que aconteceu aos projectos que foram alvo destes protestos:

Na Aboboreira:
- ecologistas acorrentaram-se às máquinas que preparavam os terrenos;
- camponeses e aldeões da serra da Aboboreira (Aboboreira, Entaladouro, Várzea da Ovelha, etc.) juntaram-se e trouxeram centenas de cabeças de gado para a frente das máquinas;
- o projecto não avançou, tendo ficado eucaliptados apenas alguns hectares que não afectaram a actividade pastorícia (a principal causa que levou à mobilização dos camponeses). A causa provável foi a mediatização do caso, que levou a Soporcel a abandonar o projecto para evitar a deterioração da sua (já má) imagem.

Em Valpaços::
- população local e ecologistas fizeram uma acção directa onde arrancaram 3 mil pés de eucaliptos que tinham sido plantados;
- GNR tinha montado guarda na propriedade e atacou a população, a cavalo;
- GNR deteve um membro de uma cooperativa agrícola local;
- O projecto não avançou e na propriedade permaneceram apenas algumas pequenas manchas de eucaliptal.

Em Mértola::
- Ecologistas e membros da ADPM acorrentaram-se às máquinas que preparavam os terrenos na Herdade dos Cachopos (+1000 ha, a descer até ao Pulo do Lobo) para a plantação de eucaliptos;
- circulou um abaixo-assinado a contestar a plantação;
- A empresa responsável acabou por desistir do projecto. Ficaram algumas manchas de eucalipto, mas não muitas.
Fonte: http://pt.indymedia.org

Esta é a colonização do século XXI...exploração de países pobres, como se estes não tivessem já fome suficiente, o ideal é inutilizar terrenos para plantar eucaliptos (matéria prima do papel)....só prova que O CAPITALISMO É FOME!!!
Tudo isto com um argumento que criam postos de trabalho, e também criam fome e escassez de recursos para o povo local.
Só se continua a fabricar papel com eucaliptos porque é uma árvore barata, de fácil criação e que se adapta bem a diversos climas. De certeza que há alternativas menos prejudiciais aos terrenos, e de certeza que a empresa iria ganhar mais se ao destruir a terra das locais, investisse em estruturas que compensassem a miséria e a fome que os seus eucaliptos criaram.

Esta internacionalização não cria valor nenhum para o povo moçambicano, pelo menos da forma como está a ser negociada, ONDE ESTÁ A VOSSA CONSCIÊNCIA SOCIAL??
esta é a pergunta que fica para a Portucel e para o Governo Moçambicano

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