quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mandela - lutador contra o apartheid


Aos 91 anos, o homem que deixou pelo seu próprio pé a cela da cadeia de Victor Vester, nos arredores do Cabo, continua a ser o principal inspirador de uma nação que tenta reconciliar-se com o passado.

Há 20 anos, no dia 11 de fevereiro, Nelson Mandela caminhou, com Winnie, com quem era casado na altura, pelo braço, em direção a um mar de gente que o aguardava nas ruas, sem aparato de segurança especial, dando início a um processo de edificação de uma democracia plena e representativa que ainda hoje surpreende o mundo.

Esse gesto, aparentemente intrépido, de um líder que viveu 27 anos encarcerado por ousar opor-se a um regime brutal, encerra em si próprio a natureza do político que acredita que quando a causa é justa não há lugar para o medo.

Caminhar sem seguranças

Por isso, foi sempre coerente nas abordagens e na vida, quer como cidadão, quer como chefe do Estado quer como líder na reforma.

Essa atitude perante a vida e perante o povo criou dores de cabeça sem fim aos seguranças ao longo dos últimos 20 anos: quando Mandela caminha não há barreiras que o segurem.

Em certa medida, Frederik de Klerk, o homem que ordenou a libertação do "pai" da democracia sul-africana, tem uma abordagem semelhante perante o processo político.

Frederik de Klerk, que em 2 de Fevereiro de 1990, poucos meses após ter sido eleito, ordenou a libertação de Mandela e a legalização dos partidos políticos e sindicatos, mostrou durante as fases críticas do processo de transição o mesmo espírito temerário, apesar das ameaças que enfrentava de todos os sectores, designadamente do seu próprio povo, os afrikaners, para quem, na altura, simbolizava "o supremo traidor".

Polémico papel de De Klerk

A importância do papel de De Klerk na libertação de Mandela e no sucesso do processo de reconciliação que se seguiu ainda hoje não é pacífico.

A versão oficial do Congresso Nacional Africano (ANC), reiterada na
semana passada, é a de que De Klerk fez apenas aquilo que deveria ter feito, não lhe restando, em 1990, outras opções, face ao isolamento a que o mundo tinha condenado o país e à paralisia económica provocada pelas sanções.

De Klerk acreditava que ao nível dos princípios e dos valores, a única via a seguir era libertar Mandela e todos os presos políticos e construir um regime democrático. No processo tentou garantir os direitos básicos para
a minoria branca que representava, uma tarefa difícil face à opressão contra a maioria negra que Mandela, orgulhosamente, representava.

Isso mesmo transmitiu numa entrevista em 1992, no período em que se negociava uma nova Constituição, a partilha transitória do poder e o calendário do processo eleitoral.

"Não há meias democracias"

Nisso mesmo ele continua a acreditar: que não existem "meias democracias", embora sejam necessárias garantias de proteção das minorias em regimes democráticos, face às constantes tentações totalitárias dos dirigentes eleitos.

Apesar dos recuos, dos persistentes episódios de corrupção e desvios à linha reconciliatória imposta por Mandela e altos dirigentes do ex-movimento de libertação, a África do Sul mantém-se firme no caminho da democracia.

O dinamismo das instituições, a liberdade de Imprensa e o relativo bom funcionamento do sistema judicial, não totalmente controlado pelo partido no poder, são garantias de sucesso, 20 anos após a libertação de Mandela.

Nelson Mandela vai deslocar-se à Assembleia Nacional na Cidade do Cabo, quinta feira, dia em que celebra 20 anos de liberdade, para assistir ao discurso do presidente Jacob Zuma sobre o Estado da Nação.

O presidente do Parlamento, Max Sisulu, confirmou terça feira que Mandela vai estar presente na abertura do ano parlamentar, uma ocasião de gala em que o Chefe do Estado Jacob Zuma faz o discurso do Estado da Nação.


Fonte: Expresso

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