Fascismo em Portugal

Infelizmente, o fascismo não foi um pesadelo. A ditadura fascista de Salazar e Caetano prendeu, perseguiu, torturou, assassinou milhares de lutadores da liberdade. A ditadura fascista dos grandes monopólios reprimiu o povo português, explorou até ao tutano os trabalhadores, colonizou, explorou e assassinou os povos da Guiné, Angola, Moçambique, Timor, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde. Exerceu a censura sobre os órgãos da comunicação social; impediu a livre expressão do pensamento e empurrou para a emigração centenas de milhares de portugueses. Mergulhou o País num marasmo, cavando a sua própria sepultura de isolamento internacional e gravando, no território português, uma marca de subdesenvolvimento, cujas consequências ainda hoje são palpaveís nos atrasos estruturais da nossa economia e cultura.
O que aqui venho dizer é que o fascismo português, contrariamente ao que por aí apregoam um magote de pseudo-intelectuais, nacionais e estrangeiros, não foi propriamente um simples regime autoritário, paternalista, tolerante, que se limitou a “dar uns apertões no povo” em nome dos supremos interesses nacionais.
O seu incansável esforço de reescrever a história chega ao ridículo de afirmar que Salazar não foi fascista e que a PIDE não maltratava nem matava ninguém. E, neste esforço desmesurado, tudo fazem para ocultar e falsificar o papel determinante desempenhado por algumas figuras na resistência anti-fascista. E, daí, passam ao ataque à revolução de Abril e aos seus ideais, chegando ao cúmulo de equiparar, perseguidos e perseguidores, oprimidos e opressores, assassinos e assassinados, carrascos e vítimas. Chegando ao ponto de eleger Salazar como a figura do século XX em Portugal. O fascismo português, dos nossos dias representado por meia dúzia de sujeitos de cabeça oca, promove o obscurantismo cultural, e monopolista, ao serviço de uns quantos fantoches mentecaptos que na infância não tiveram a devida atenção por parte dos paizinhos.
O fascismo português existiu e infelizmente ainda existe e deixou e deixa marcas profundas na nossa história: os medos, o subdesenvolvimento, o atraso cultural, económico e social, o terror, a miséria, a censura, e a violência. O fascismo existiu e deixou cravadas as suas garras castradoras na face do povo português. Mas, se o fascismo existiu, também é verdade que não teve a vida fácil. Pela frente, encontrou sempre a heróica resistência de muitos democratas, decisivos na derrocada desse hediondo regime. Resistência essa que ainda hoje é aplicada por muitos revolucionários, que lutam contra a inversão da marcha histórica que quer empurrar Portugal, de novo, para o subdesenvolvimento e a injustiça, pelas mãos das políticas de direita fascistas e castradoras.
Em defesa da verdade histórica, da democracia e do futuro, convidamos todos aqueles que se revêem nos ideais progressistas da liberdade, da democracia, da justiça social e da paz para que se juntem a nós neste combate contra o fascismo, esse monstro que alimentou o aparelho repressivo da ditadura e que, contrariamente ao que querem fazer crer algumas vozes, se mantém vivo, ainda mexe, movimenta-se pela calada da noite, organiza-se sob as mais diversas formas, aproveita-se da distracção ou da famosa tolerância democrática, alimenta-se das entranhas apodrecidas das crises sociais que o capitalismo vai gerando.
Nós estaremos, como sempre estivemos e agora mais activamente que nunca, na luta ao lado de todos os antifascistas, contra o revivalismo fascista que existe em Portugal, encabeçado por projectos racistas, xenófobos e de ideologia neonazi como o do PNR. Em Rio de Mouro, como em qualquer outro pedaço do nosso território, lutaremos pelos ideais da justiça social, da democracia e da liberdade, num País livre, independente, justo e desenvolvido, onde a todos dê gosto viver.
Que ninguém caia na ilusão: o ventre que pariu o fascismo português ainda é fértil. Mas é bom que saibam todos aqueles que desejam a repetição dessa fatia macabra da nossa história, que, se alguma vez ousarem atentar contra o regime democrático, encontrarão pela frente a força organizada de muitos antifascistas e o incondicional empenhamento do Movimento Antifascista de Rio de Mouro.

ANTIFA, sempre!
Fascismo, nunca mais!