segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Portugal: Cultura e Repressão

Ultimamente, parece que a única coisa que se discute na imprensa é o Idolos (seguido por uma infinidade de programas de qualidade dúvidosa.) e o crescimento da violência. Nada de mais relevante existe neste país, nem mais um mísero problema. Exceptuando os dois temas, vivemos no vácuo da rotina quotidiana: será que a partir de agora, na viragem de mais um século, as nossas vidas estão resumidas a acordar, trabalhar, assistir ao Idolos. e dormir, ao mesmo tempo que nos desviamos de carjacking, assaltos, sequestros relâmpago, corrupção? Que caralho de televisão é esta, que quando pensamos não poder ficar pior, consegue superar-se e transformar-se em algo homogéneo: MERDA. É impressionante o salto cultural que demos em tão pouco tempo, um grande salto para cima, para cairmos de cabeça no fosso! Câmaras! Câmaras! Câmaras! Vivemos na cultura das câmaras! Câmaras nos bancos, câmaras de trânsito, nos shoppings, nas escolas, em todo o lado onde se possa imaginar, espiando o quotidiano. Claro, a intimidade também pode ser comercializada. Talvez eles coloquem câmaras dentro das bocas dos artistas, para nos masturbarmos com o movimento das línguas. Vão colocar câmaras nas casas de banho, para que possamos ver como é a merda dos artistas e famosos. E no dia seguinte, uma enxurrada de programas inúteis de promoção e boatos das vidas dos mesmos artistas e famosos, discutirá relativamente a tamanhos de buracos e questões escatológicas. É a celebração da espionagem da vida alheia, da intimidade que não interessa a ninguém, só a quem pertenceu a merda é claro. Aliás muita gente questiona essa brilhante classe da sociedade receber o título de artistas ou vip ou jet-set. Como não? Claro que são artistas, artistas do grotesco, do patético, da arte da ostentação e da miséria mental. Nossos idolatrados modelos movidos a cocaína e orgias repugnantes de falta de inteligência. A violência também pode ser comercializada, gerando lucro. Desde os programas fasci-sensacionalistas, tipo “Grandes Portugueses”, passando pelos telejornais, até os programas de discussão, é sempre possível espremer o tema até a última gota, há sempre um político idiota ou um convidado cretino para dar sua inútil opinião ou sua fórmula mágica para o fim do caos social. Ao mesmo tempo, os veículos de comunicação passam a “mensagem”. Repare que só se fala em investir na polícia, criar equipas do tipo intervenção-pide, usar desde as câmaras de trânsito até o exército contra o crime, e muitas outras perversões. É claro, essa é a prática de todo governo autoritário disfarçado de democrático: anunciar medidas de impacto para acalmar principalmente a classe média e a elite, planos incríveis que prometem resultados em poucos meses, sempre a mesma treta! Não nos podemos esquecer dos ‘coitadinhos’, bêbados de poder que vivem além da realidade, e utilizam a imprensa para vomitar pena de morte, mais repressão e controle, tolerância zero, etc. em pura demagogia na luta da sua “liberdade”. Mas, e aqueles que moram nas comunidades? Alguém lhes vais perguntar se dá para viver em zonas ostracizadas, esquecidas e repletas de gatunos, fome, miséria e pobreza? Não! A quem interessa? É tão bonito ver a elite mobilizada em festas de alta classe, toda de branco (nos narizes acima de tudo) pedindo soluções para acabar com a miséria (ó como quem diz pagar menos impostos). Mas enquanto os pobres e as pessoas que realmente trabalham, levam tiros, são assaltadas, e são desmembrados e esquecidos (excepto quando lhe têm que pagar é claro) pelo governo ninguém vai para a rua pedir justiça! Ninguém fala da brutal desigualdade social, da crescente miséria, acham que vão acabar com a violência e não só destacando um policia para espreitar por cima do ombro de cada cidadão. Na verdade não querem acabar com nada, o tráfico de drogas dá lucro para elite e a miséria é o projecto das elites globais para países como o nosso. Na nossa sociedade da era industrial, a cultura de massas rege todas as nossas necessidades, é a cultura do consumo. Os “Modelos” de status social e exemplo de vida mostram como é que devemos consumir para que se obtenha o mesmo que eles, porque aquele que consome tem necessidades, e se ele tem necessidades deve consumir. Ficamos anestesiados, passando a vida toda atrás de sonhos, sonhos criados para nos manter a correr em círculos, tal como um cão persegue a sua cauda. O objectivo é a liberdade, mas a liberdade capitalista, do consumo, de poder ser como um dos milhares de “modelos” com os quais devemos nos identificar. Acontece que apenas uma minoria têm condições de consumir neste país, e quando sua liberdade de consumo é impedida é que essa minoria começa a reclamar e se mobilizar (ou seja o rico só se mexe, quando lhe vão ao bolso). Quando o sujeito não pode andar com o relógio novo, no seu carro novo, não pode levantar dinheiro na caixa multibanco, ou pagar com visa gold, bate com a tromba mesmo no fundo do fosso, enfim, quando não é apenas o pobre que sofre a violência e ela chega também a elite, é que a mesma sai às ruas e faz campanhas bonitas com artistas de novela, aliás ficção nacional, pedindo soluções! O sonho não pode ser interrompido, eles vivem apenas para o consumo, para o ter, para a aparência e o status. É o pão e o circo da classe média, só que o pão é vendido no shopping e o circo passa na tv. Que se foda o povo! Polícia nas ruas! Policia em todo o lado! Mas só apontam o dedo nas periferias e nos bairros: Bandido! Traficante! Ninguém quer saber o que pensam, ou que a maioria daqueles que lá moram são pessoas que acordam de madrugada, utilizam mais de três ou quatro transportes (públicos é claro) e passam o dia a trabalhar no duro, e a ser explorado, para construir a casa em que eles moram, para fazer o pão que eles comem, a limpar a rua em que eles andam, para os atender atrás de um balcão, a fazer tudo aquilo que é preciso para esta merda a que chamamos de sociedade possa ‘funcionar’ . Pessoas que também sentem dor, e que apenas são tratadas como gentinha reles e reprimidas pelas forças governamentais e policiais. Está na hora do nosso ‘programa’ de prime-time, mas o da realidade quotidiana, a verdadeira realidade. Nós somos as estrelas desse programa e todos devemos sair vencedores. E é importante que saibamos muito bem quem deve ser eliminado: as elites e seu agente, o governo. Passo a passo pelo caminho que leva à revolução social e ao poder popular!

REVOLTA-TE!

ANTIFA SEMPRE!

1 comentário:

  1. A revolta é a génese de toda a luta, toda a contestação, toda a crítica radical.
    O que não falta é gente a sentir essa revolta, o problema é que a uns dá-lhes para a violência sem sentido, a outros para direccionar a revolta contra os que estão abaixo, outros ficam simplesmente frustrados, e os que procuram realmente entender o que se passa acabam por ser já relativamente poucos.
    O que não quer dizer que a partir de uns poucos não possa surgir a semente de alguma coisa. Ou a partir das lutas não surja a consciência social que falta e com isso despoletar revoluções.

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