Este artigo veio no Diário Económico no dia 12 de Novembro de 2009, da autoria do Professor João Duque, que mostra como o capitalismo pode ser utilizado para melhorar o mundo:
O capitalismo é normalmente apontado como um sistema de má índole e tem a sua expressão mais viva e excitante nos mercados de títulos.
As Bolsas são consideradas as catedrais dessa corja de malfeitores sociais, o paraíso dos especuladores, onde desvairados gananciosos, marimbando-se nos produtos ou serviços produzidos pelas empresas cujas acções transaccionam, desejam aumentar a riqueza para aumentar o poder, o consumo futuro, ou simplesmente a riqueza.
Ora, o interessante da ideia, e talvez mesmo provocante da coisa, foi usar a filosofia do capitalismo para desenvolver um projecto do maior relevo e interesse humanista e social. Baseados no princípio liberal de que o preço de mercado, estabelecido entre duas partes livres e esclarecidas é a expressão mais simples e apropriada de impor a eficiência no produtor em prol do consumidor, a BVS - Bolsa de Valores Sociais, tem em vista criar o mecanismo de encontrar a oferta de boas vontades à procura de apoios para levar a cabo boas acções.
Manifesto amiúde as minhas dúvidas sobre o verdadeiro interesse das empresas comerciais quando implementam dispendiosos programas de acção na área da designada "Responsabilidade Social das Empresas". Será que as empresas devem apenas concentrar-se naquilo que devem fazer de modo a remunerar adequadamente os seus ‘stakeholders', ou fazer algo mais de acordo com os supostos interesses de alguns accionistas carregados de bons princípios morais? Será que a responsabilidade social não deve ficar exclusivamente a cargo dos indivíduos que acusam sinais de preocupação e mal-estar na ausência prolongada do bem?
Porém, eis que surgiu uma excelente iniciativa que vale a pena divulgar: a da Bolsa de Valores Sociais. Pretende ser uma Bolsa de Valores, em que os "valores" são de duas naturezas: os valores quasi-mobiliários (porque se financiam projectos socialmente responsáveis sob a forma de títulos que subscrevemos como se de um mercado de títulos se tratasse) e os valores que inspiram os que financiam e os que colocam em prática esses projectos, de natureza humana tão rica e tão forte que nenhum preço pode igualar.
Quando me perguntaram se aderia à ideia senti que tendo eu sido tão bafejado na vida, não podia deixar de aceitar o compromisso de dar voz e amplitude ao projecto sempre que possa. O valor mínimo de subscrição destas "acções" são €10 e qualquer um pode visitar o site www.bvs.org.pt onde encontra o caminho para dar um pouco mais de felicidade a outros que de nós precisam. A NYSE-Euronext garante o bom encontro da "oferta" com a "procura" de apoios, garantem-nos a auditoria e a seriedade do financiamento como se de empresas cotadas fossem, e os projectos são tão interessantes... Da "Operação Nariz Vermelho" à Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21", passando pela proposta da Dianova ou da Cooperativa Terra Chã, todos merecem a nossa atenção. Caro leitor, pense nisso.
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João Duque, Professor Catedrático do ISEG
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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