sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pseudo-sonho americano

A declaração de Independência dos Estados Unidos da América data de 1776. Originalmente era um país composto por 13 estados e hoje comporta 50 estados.
Não pretendo uma resenha histórica, mas expor os pontos que considero importantes para a melhor compreensão deste país, que se propõe como sendo a melhor democracia do mundo e se perpetua como o salvador das nações oprimidas.
Começo por três pontos que denunciam a falta de laicidade desta bela democracia.
Portanto, dia 20 de Janeiro de 2009 tomou posse o 44º presidente dos Estados Unidos da América. A cerimónia decorre na normalidade e aquando do juramento ergue a sua mão direita e coloca a sua mão esquerda sobre a Bíblia, sim leram bem sobre a Bíblia, para proferir o juramento. Pois é, onde está a laicidade deste país quando a própria tomada de posse dos seus presidentes decorre com a mão sobre o maior símbolo do cristianismo? Querem a resposta: NÃO ESTÁ!
Thomas, podia-se chamar John para o caso é igual, está no tribunal para fazer de testemunha num caso. Entra, senta-se e o ritual é igual ao do seu presidente. Mão direita erguida e mão esquerda sobre a Bíblia. No tribunal!?! Estou confuso… sim num tribunal de um estado democrático onde se diz que são todos iguais e temos todos os mesmos direitos, Thomas jura sobre a bíblia dizer a verdade e nada mais que a verdade.
E agora, para finalizar este ponto da religião e do estado mais “democrático” do mundo, fica a imagem de uma nota de um dólar:


Em termos de conclusão sobre este ponto quero dizer que, para mim, está aqui inerente uma clara exclusão de todos aqueles que não acreditam numa vida sobre os padrões, os ateus, como eu, mas também de todos aqueles que têm outros cultos religiosas que não têm a Bíblia como livro sagrado. Será isto uma democracia justa?

Agora escrevo sobre essa área da sociedade que nos preocupa tanto, que é um sistema de saúde universal e que apoie toda a população em caso que doença. Neste campo, nos Estados Unidos América o sistema de saúde público não existe. Cada cidadão está sujeito a ter de fazer um seguro de saúde privado e a sujeitar-se a ir aos médicos que a sua seguradora cobre. O princípio da universalidade está quebrado. Existe ainda uma grave diferenciação, os seguros mais baratos não cobrem determinados pontos da prestação dos cuidados de saúde. Só os seguros mais caros têm uma cobertura abrangente. Assim, criam-se cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. Aqueles que têm dinheiro conseguem assegurar uma saúde de qualidade, mas os que têm menos possibilidades ficam com uma saúde de segunda.

As seguradoras têm o total controlo do sistema de saúde nos E.U.A. tendo lucros astronómicos nesta área essencial de um estado que se diz democrático.

Na área da segurança social esta grande democracia, também deixa muito a desejar pondo, mais uma vez as seguradoras na linha da frente das pensões dos trabalhadores. O sistema se segurança social está quase totalmente privado, deixando as poupanças de uma vida ao cuidado dos privados. Os casos de falências de seguradoras são recorrentes o que provoca a ruína de muitas famílias que ao entregarem as sua poupanças, pensando que estão seguras e com um futuro assegurado, se vêem sem nada.
O favorecimento dos privados, criando desigualdades muito marcadas entre ricos e pobres, é perpetuado por este sistema de capitalismo selvagem, mas que se diz muito democrático e justo.
É, ainda, nos E.U.A. que entre 1973 e 2004 foram assassinadas 916 pessoas através da pena de morte existente em 36 dos 50 estados. Não aprofundo mais este tema já foi abordado neste blog, e muito bem, no post “Pena de morte!”. Fica só este apontamento.

Ao ler um livro que tenta rebater as teorias do anti-americanismo – “Porque somos anti-americanos?” – está presente uma lista clara de todos os conflitos armados e/ou intervenções militares que os E.U.A. iniciaram e muitos ainda não acabaram ou deram origem a constantes guerras civis nos países em questão. Esta lista inicia-se em 1890 e termina no ano de 2001 e conta com 132 conflitos armados iniciados por este país tão justo e democrático. Entre eles podemos encontrar a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial. Existe, também, uma panóplia de intervenções da tropa contra manifestações populares nos próprios E.U.A. Depois surgem os conflitos externos, como por exemplo:
Honduras – 1912 – Protecção dos interesses económicos dos E.U.A.;
Vietname – 1960 a 1975 – Contra a revolta no Vietname do Sul e o Vietname do Norte, um a dois milhões de mortos na guerra mais longa do E.U.A;
Panamá – 1964 -Panamianos abatidos por exigirem a devolução do canal;
Indonésia – 1965 – Um milhão de mortos em golpe do exército apoiado pela CIA;
Camboja – 1969 a 1975 – mais de dois milhões de mortos na década de bombardeamentos, fome e caos político;
Irão – 1987 a 1988 – intervenção na guerra do lado do Iraque;
Iraque – 1990 a “não se sabe até quando!” – Bloqueio dos portos iraquianos e jordanos, mais de 200 000 feridos, destruição em larga escala do equipamento militar iraquiano;
Afeganistão – 2001 e continua… - Mobilização maciça dos E.U.A. contra os Talibãs e Bin Laden.
Não nos esqueçamos ainda de Hiroshima e Nagasaki onde os Americanos em Agosto de 1945 largaram as únicas bombas atómicas até hoje utilizados deixando aquela área numa devastação total e com problemas para longos anos.
Estes são apenas alguns exemplos. Foram 132 lembram-se, ou melhor, 134, contando Hiroshima e Nagasaki.
Estes conflitos têm todos propósitos de protecção da economia dos E.U.A., a guerra pelo petróleo e o estabelecimento de bases militares em pontos estratégicos.
Agora falemos da actualidade, mais concretamente do Patriot act que surgiu após os ataques de 11 de Setembro. Este acto patriota foi introduzido a 26 de Outubro de 2001 e integra as funções dos serviços secretos à imposição da lei interna, dando-lhes plenos e novos poderes e deste modo eliminando as averiguações e o equilíbrio que permitiam anteriormente aos tribunais assegurar o não recurso abusivo a tais poderes. Após isto cerca de 1200 pessoas foram detidas sem que lhes facultassem um advogado, e na baía de Guantanamo, em Cuba, exista um campo de prisioneiros no qual estes não possuem um estatuto legal definido.

Toda esta exposição não pretende criar ódio à melhor “democracia” do mundo, é apenas uma pequena leitura que tem por objectivo alertar para a falácia americana e fazer ver que os E.U.A são uma pseudo-democracia religiosa, imperialistas e são anfitriões deste capitalismo selvagem que suga os recursos dos países mais pobres para seu próprio favorecimento.

Não será uma nova cruzada? Sem dúvida que são as cruzadas do capitalismo.

Anti-americano… Não.

Só não gosto muito deles e do seu pseudo-sonho americano.

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